Rivalidade: inveja, ressentimento e rejeição

“Como Milton Hatoum retoma a narrativa bíblica de  Caim e Abel em seu romance “Dois Irmãos””?:

Palavras: 3987

Orientador: Laiz Carvalho

 Autor: Raffaela Pastore Meneguetti

Candidate Number: 000925-012

São Paulo - 2007

Abstract

A literatura abrange como tema, desde a Antigüidade, os sentimentos de rivalidade, inveja, ressentimento e rejeição em muitas obras.

A partir da análise da obra “Dois Irmãos”, de Milton Hatoum, pretendo compreender como esses sentimentos são apresentados ou ainda tratados pelo autor. Com a Research Question: “Como Milton Hatoum retoma a narrativa bíblica de  Caim e Abel em seu romance “Dois Irmãos””? espero compreender a rivalidade e seus conseqüentes sentimentos são analisados.

Em Caim e Abel é possível notar que o principal ponto de conflito entre os irmãos é a escolha de Deus em relação à uma das oferendas. “Caim ofereceu frutos do solo e Abel primícias de seu rebanho e da gordura”, sendo essa última a oferenda rejeitada. Assim como é possível notar que Zana, a mãe dos “dois irmãos”, cria um carinho maior por um deles, Omar, gerando um grande sentimento de rejeição no outro, Yaqub.

Observando os diversos aspectos de uma relação, pode-se perceber que a rivalidade nada mais é do que uma comparação em que o outro acaba por ser melhor avaliado.  Esta deve ser tratada interiormente, evitando que o sentimento  passe a se tornar algo maior, como a vingança a alguém por algo que não se consegue ter. Assim como Caim mata Abel por se sentir injustiçado ou então como Omar rasura as fotos do casamento de Yaqub, por se sentir menos amado.

A rivalidade é um fruto do desentendimento. Isto leva-nos a crer que atos de violência podem ser conseqüência de um desentendimento, da rivalidade. Leva-nos a crer que a vingança pode ser uma “ebulição” friamente calculada, à espera do momento certo para explodir. Leva-nos a crer, também, que os sentimentos de rivalidade, inveja, ressentimento e rejeição, são apresentadas em Caim e Abel, assim como em “Dois Irmãos”, de Milton Hatoum.

Agradecimentos

        Agradeço primeiramente, a minha mãe que me deu a oportunidade de desfrutar dos prazeres de ter uma irmã gêmea. A convivência com minha irmã me mostrou que, nem todos, os relacionamentos entre irmãos geram um convívio constante de rivalidade, inveja, ressentimento e rejeição.

        Agradeço também a minha orientadora que, mesmo nos meus momentos de desapego e força de vontade, esteve ao meu lado me incentivando e brigando quando necessário.

         

Lembrou-lhe que a vingança é mais patética que o perdão.

(Rânia)

                                                                                                                                                       

Índice

Introdução                                                                                                           p. 06

1. Rivalidade: a inveja, o ressentimento e a rejeição                                               p. 08

2. Vingança: o cálculo frio                                                                                            p. 14

3. Intertextualidade: A retomada da história de Caim e Abel na obra Dois Irmãos     p. 18

Conclusão                                                                                                           p. 21

Bibliografia                                                                                                          p. 23

Introdução

As narrativas que exploram histórias de rivalidade entre irmãos, gêmeos ou não, sempre fascinaram os leitores de todo o mundo. A mais conhecida é a história de Caim e Abel e sua relação de inveja e ressentimento na competição pelo amor de Deus. Assim como nessa narrativa, em que é citada a vontade de estar no lugar do outro e a vontade de ter a atenção maior de um terceiro; na história dos irmãos Esaú e Jacó, mais uma narrativa bíblica, a mãe tem um filho preferido, Jacó, alimentando a rivalidade entre os irmãos. Já William Shakespeare, na peça Rei Lear, retrata o conflito entre três irmãs que estão por receber parte do reino de seu pai, prestes a morrer.

A maior parte dessas histórias é relativa à rivalidade entre irmãos e aos ressentimentos resultantes dela. Quando há um conflito entre eles, geralmente ambos são caracterizados como competidores que lutam por algo que só um dos dois tem e o outro deseja, gerando sentimentos de revolta e retaliação.

Para alguns estudiosos, irmãos rivais na literatura normalmente representam a ambigüidade do ser humano com seu lado bom e seu lado mau; se um tem caráter positivo, normalmente a personalidade do outro é destrutiva. Segundo a professora Solange Firmino, “os gêmeos simbolizam a eterna luta do ser humano dividido entre contradições espirituais e materiais para afirmar sua personalidade, no conflito entre ser e não-ser.”  Pode-se acrescentar a essa reflexão que o conflito entre gêmeos tem sua origem na necessidade que o ser humano tem de ser amado.

Muitos romancistas retomaram essas histórias, recriando-as por meio de outros personagens e cenários. Na literatura brasileira, Machado de Assis retoma o tema em seu romance Esaú e Jacó. O livro é centrado nos gêmeos que, desde o útero da mãe, já competiam entre si pelo mesmo espaço, uma mesma pessoa.

Seguindo por esse mesmo caminho – o conflito gerado pela necessidade de dividir o amor de uma pessoa –, Milton Hatoum, em seu romance Dois Irmãos, também retoma a antiga história de gêmeos que se tornam rivais. A narrativa está centrada na diferença de intensidade do amor materno em relação aos dois, gerando inveja, desejo de ser amado, medo, ciúmes e rivalidade, com conseqüências dramáticas para toda a família.

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O meu objetivo com este trabalho é refletir sobre como Milton Hatoum aborda esses temas universais nesta sua obra. Partindo de tal interesse, pude criar minha Research Question: “Como Milton Hatoum retoma o conto Bíblico de  Caim e Abel em seu romance “Dois Irmãos””? Pretendo respondê-la a partir de uma análise da obra, levando em conta as condições em que os gêmeos são criados, o temperamento e o caráter de cada um e suas atitudes e ações, além de explorar a intertextualidade da obra com outra narrativa, o conto Bíblico de Caim e Abel.

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