É visível, segundo este estudo, a predominância do sexo masculino. No entanto, não se pode esquecer que o anonimato é uma das características que centrais do IRC. É habitual encontrar mulheres que se fazem passar por homens, e vice-versa. Apesar disso, parece haver, por parte da grande maioria dos utilizadores, uma aceitação implícita de tal, pelo que este facto não parece ser um incómodo, ou um obstáculo à comunicação. Verificou-se uma predominância de jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 20 anos, sendo a média de 21anos.
Há uma grande percentagem de novos utilizadores. Tendo em atenção que a PTnet entrou em funcionamento há cerca de 5 anos, é de notar que mais de metade dos utilizadores, a frequenta há menos de dois anos - consequência do grande aumento de ligações à Internet que tem havido nos últimos anos, o que se traduz num crescimento substancial no número de utilizadores. Neste estudo também se perguntou aos utilizadores, se já tinham encontrado pessoalmente, pelo menos uma pessoa com quem tivessem contactado primeiro no IRC- apenas 22% dizem não ter conhecido ninguém ao passo que 78% de utilizadores afirmam já se ter encontrado pessoalmente com outros utilizadores do IRC. Apenas 6% dos utilizadores, dizem nunca ter sentido que alguém lhe mentiu nalgum momento, os restantes 94% têm a noção de já terem sido enganados, em que 43% de indivíduos dizem nunca ter mentido sobre a sua identidade. Os restantes 57% admitem tê-lo feito nalgum momento. Apenas 39% dos utilizadores, têm compromissos sentimentais, o que conduz à ideia, que o IRC funciona como um óptimo local para procurar namoros. Neste estudo, cada utilizador passa uma média de 11 horas semanais no IRC, apesar disso, é de notar a existência de um grupo de quase 10% de utilizadores que gastam mais de 30 horas por semana online. Em resposta à pergunta "O que te faz vir ao IRC?", as respostas foram variadas: conversar; excesso de tempo livre; falar com amigos distantes; conhecer pessoas novas; adquirir conhecimentos; vicio...Vários utilizadores, referiram o facto de terem vindo a primeira vez apenas por curiosidade, e terem acabado por arranjar amigos, que os vão mantendo.
E aqui também importante destacar o estudo realizado pela faculdade de ciências e tecnologia (gestão de sistemas de informação) da universidade nova de Lisboa, sobre o perfil dos utilizadores individuais da Internet, no sentido de compreender que tipos de utilização são dadas
à Internet e quais os tipos de pesquisa mais feita assim como quais as motivações dos usuários.
OBSERVAÇÕES DAS ENTREVISTAS E CONVERSAS ONLINE
Ao realizar o meu trabalho efectuei algumas pesquisas teóricas, em alguns sites da Internet, para melhor expor qual a génese e desenvolvimento progressivo de um dos serviços mais utilizados, com vista à conversação online e interactiva da Web, destacando o IRC. No entanto, para além de alguma investigação teórico-conceptual a análise que de seguida apresentarei recai sobretudo sobre as observações retiradas da pesquisa empírica que realizei: foram feitas duas entrevistas pessoalmente, que evidenciam dois casos à partida semelhantes, contudo bastante antagónicos. Com efeito, de modo a reforçar as ideias que daqui retirei realizei algumas conversas online no IRC, de modo a ter uma maior aproximação a esta realidade virtual.
Através de vários programas é possivel aceder às salas de conversação do IRC, que são construídos sobre interesses, conhecimentos, afinidades ou proximidades geográficas, como é o caso do canal #Lisboa, onde realizei algumas conversas virtuais. Cada um destes “canais” possuem formas, regras e apresentam comportamentos e linguagens específicos utilizados pelos seus usuários, de acordo com a tipologia desse determinado “canal”.
Todavia, esta comunicação em tempo real, na maioria das vezes, é assincrônica e solitária, sendo fundamentalmente uma interacção com o texto. Logo, este tipo de comunidade virtual está completamente separado da realidade física, em que grande parte das relações cibernéticas permanecem virtuais, mas uma parte significativa já pretendem encontros presenciais- os chamados “IRContros”, em que os usuários do IRC que só se conhecem virtualmente procedem a um encontro presencial. Estes encontros, em muitos casos, trazem grandes surpresas e decepções bem como namorados virtuais que finalmente assumem namoros convencionais.
Para realizar este trabalho sobre o vício dos chats da Internet realizei duas entrevistas com perguntas previamente elaboradas o que contrasta com as conversas tidas no IRC, que não seguem qualquer tipo de ordem particular.
Realizei uma entrevista à Ana de 21anos, que mora em Lisboa e que passa muitas horas semanais a “navegar” pelas salas de conversação virtuais. Quando lhe perguntei porque procura os canais de IRC, esta respondeu-me que para além de passar o tempo, era uma forma de conhecer pessoas iguais a ela (“ a realidade nem sempre me oferece essa possibilidade[...] o computador permite-me mostrar mais de mim a pessoas que não conheço e que na realidade face-a-face nunca me davam essa oportunidade”- anexo 1). Neste sentido, a Ana considera que, dependendo do que a outra pessoa está disposta a mostrar, é mais fácil para ela conhecer alguém através da “net”, de onde pode depreender-se, do meu ponto de vista, que nesta net os indivíduos
são mais verdadeiros, sinceros e espontâneos, isto é, como não estão frente a frente com o outro
é mais fácil dizer o que se sente, sem hipocrisias ou falsas simpatias (“não há o problema do tal
olhar reprovador”- anexo 1). Seguindo este raciocínio, na realidade quotidiana, a timidez, a insegurança e a falta de auto-estima, quer com a maneira de ser, quer com o aspecto físico, para muitos indivíduos, impede-os de se aproximar dos outros. No entanto, contrariamente, como refere o Ricardo de 20anos, de Portimão, o IRC é apenas um modo de falar e estar com os amigos (“é um habito ir para o IRC.. em vez de estar horas ao telefone com os meus amigos ou a mandar sms venho para a net falar com o pessoal”- anexo2 ), o que pode levar a concluir-se que os chats são apenas uma forma de conhecer pessoas, ou seja, não é imperativo conhecer alguém pela Internet, visto que o Ricardo procura os canais de IRC, especialmente para passar o tempo, para se divertir ou procurar uma conversa interessante. Perante a afirmação “A Internet pode funcionar como uma fuga á realidade e aos problemas reais do dia-a-dia”, a Ana salientou uma resposta bastante interessante- “a net funciona como uma atenuante dos problemas, mas quando os problemas são mesmo graves, não é a net que os resolve”. De seguida, afirma que a net já foi uma fuga para ela (“mas isso acaba por ser outro problema, porque quando uma pessoa sente necessidade de fugir á realidade é porque essa realidade não a satisfaz”), de onde pode reter-se o facto do sistema de conversação online permitir uma ajuda no que se refere a problemas de solidão ou outros aspectos psicológicos, em que como referiu a Ana “a net é a realidade de muita gente, que ultrapassa o virtual e passa a constituir a vida real das pessoas” (anexo1). Neste sentido, é visível que este afastamento da realidade social reflecte uma ruptura com a percepção comum dos sistemas de referência, quer de ordem cultural, económica, social bem como das subjectividades estruturantes impostos pela realidade social que rodeiam estes indivíduos, o que pressupõe um auto-constrangimento destas pessoas em relação ao exterior.
Há, por outro lado, também outro tipo de cibernéticos, a saber, aqueles que segundo o Ricardo “têm várias caras” (anexo2). Daqui pode inferir-se que muitos usuários do IRC mentem ou ocultam algo sobre os seus dados pessoais ou personalidade, com o fim de atrair e cativar a atenção dos outros, estando, por outro lado, a desempenhar a personagem que gostava de ser na realidade bem como aqueles que criam outras personagens para se abstrair da realidade e dos problemas, alimentando, por outro lado, sonhos e ambições escondidos. Há ainda que referir aqueles que apenas se querem divertir e gozar com os outros.
No que diz respeito ao Ricardo, este frequenta essencialmente os canais #Portimão e # Friends4ever (criado por ele e alguns amigos), o que nos indica uma maior proximidade e cumplicidade entre os utilizadores destes canais pelo facto de haver um maior conhecimento presencial, sendo estes canais um ponto de encontro e divertimento entre amigos, colegas de escola, ou até simplesmente contacto entre jovens da mesma cidade, o que contrasta com os elevados números de interrnautas desconhecidos do canal #Lisboa.
Nomeadamente no canal #Lisboa, tive várias conversas sobre os mais variados temas: partilha de interesses/hobbies, estilos musicais, preferências sexuais e religiosas. Contactei, ainda que apenas textualmente, com indivíduos de diferentes personalidades e modos de vida. As conversas que vão em anexo são as que considerei mais relevantes e representativas das razões que levam alguém à Internet. Utilizei o nick {_YARA_} e pelo que constatei os nicks de rapariga são os mais apelativos e o que os interlocutores mais procuram, tendo em conta que a percentagem de frequentadores masculinos é superior.
Nas salas de IRC, o principal interesse é a interacção com os outros, em que os usuários falam, ou melhor, “teclam” dos mais variados assuntos. Mas, para que a conversa se inicie são necessárias as apresentações. Como é possível verificar nas minhas conversas no chat, as primeiras perguntas surgem relacionadas com a localidade, idade, actividades, profissão, mas posteriormente uma das perguntas que mais me colocaram foi “Tens foto?”, o que evidencia, à partida, grande curiosidade sobre quem está do outro lado do ecrã, e nos indica um enorme interesse e propensão para o contacto presencial, como é visível nos anexos.
Alguns internautas procuram os chats do IRC com vista a encontrar alguém que “oiça” os seus desabafos e angústias e os aconselhe, já que não têm coragem para falar com amigos ou familiares, como é o caso da rapariga com o nick Aint_no_sunshin (anexo3), uma vez que a Internet proporciona um maior à vontade para expor os seus problemas pessoais a desconhecidos
Há também que destacar a conversa com o nick God_Overdose (anexo4), que demonstra um modo de vida particular, face a convicções religiosas bastante concretas, verificando-se, por outro lado, também alguns problemas de solidão.
Existem também internautas que pretendem falar com pessoas diferentes ou até outras culturas,
de modo a trocar experiências e opiniões, como por exemplo é o caso só Charly(anexo 5), que é um rapaz espanhol que vem passar férias com os amigos a Portugal.
Partindo da análise que realizei face às várias entrevistas, de caso específico, e no IRC e nos dados empíricos que adquiri, pode apresentar-se as salas de IRC de acordo com um perfil baseado essencialmente na linguagem escrita, o que evidencia desde logo o poder da palavra e da ortografia específica a que se recorre. Neste sentido, as salas de IRC constituem comunidades, que partilham significados, têm regras e normas próprias. A substituição da informação não verbal pelo texto é central na constituição de uma sociedade de IRC. A verbalização dos actos, o envio de beijos, abraços electrónicos são convenções básicas no IRC. Este serviço de comunicação não traz, portanto, outros estímulos senão os escritos e é através destes que as pes-
soas podem interpretar os sentimentos e comportamentos dos outros, verificando-se, deste modo, a importante supremacia da linguagem escrita, o que, por conseguinte, poder-se-á traduzir em
ambiguidades linguísticas, privilegiando aqueles que têm maior facilidade na expressão escrita.
Outra característica do IRC, pelo que pude constatar, é a intimidade e confiança que estas salas de conversação apresentam para pessoas desconhecidas. Não obstante, há ainda que referir que o IRC promove uma desinibição entre as pessoas, manifestada, quer positiva, quer negativamente, sendo frequentes expressões racistas bem como ofensas e propostas sexuais a outros utilizadores.
A adopção de nicks conduz à problemática da existência ou não de identidades virtuais. O que expressam os nicks que cada um utiliza? Como salientou a Ana “o nick é suposto ser uma publicidade da pessoa que está por detrás dele” (anexo1).
Existem vários internautas que só dizem a verdade, outros inventam pequenas mentiras enquanto outros inventam, por completo, personagens virtuais. O nick expressa, neste sentido, a identidade do usuário, seja qual for o grau de proximidade com a sua personalidade, que suscita a relação nick/identidade. O nick configura, portanto, a possibilidade do internauta se definir, isto é, tem hipótese de escolher como se quer apresentar perante os outros. Com efeito, o recurso a um certo nick confere uma certa personalidade, surgindo muitas vezes personagens virtuais.
Nos canais do IRC, os primeiros contactos são afísicos, o que indica a possibilidade de se expressar apenas aquilo que se quer demonstrar, e pelo que me parece, pode usar-se diferentes identidades, com representações distintas, à medida que se troca de nicks.
O facto de grande parte dos usuários dos chats do IRC utilizar um pseudónimo levanta questões psicológicas muito interessantes. Na maioria das vezes, o anonimato faz com que o indivíduos sejam mais abertos quando estão a comunicar, visto que não estão a “dar a cara”, isto é, não existe uma relação face-a-face. Também há casos em que os utilizadores assumem uma personalidade diferente daquela que têm na vida real, pelo facto que é necessário ter uma mente aberta quando se está no chat, pois nunca se sabe de onde pode surgir um insulto ou uma declaração de amor. No IRC tudo pode acontecer e de facto acontece mesmo, dado que, pelo que verifiquei, o anonimato permite a muitos uma conversa livre e à vontade.
COMENTÁRIOS SUBJACENTES
As salas de conversação online, que mobilizam milhões de pessoas diariamente, apresentam um estruturalismo linguístico bem como uma lógica de funcionamento específicos com uma determinada metodologia implicitamente exigida.
Deste modo, partindo do pressuposto que existem horizontes de referência sistemáticos, que favorecem ou sancionam os internautas, pode afirmar-se a presença de representações sociais características no chats da Internet. È conveniente aqui salientar Moscovici que as define, e sinteticamente, como um reflexo do mundo exterior, isto é, “como um reflexo interno de uma realidade externa, reprodução conforme no espírito do que se encontra fora do espírito”. No fundo, estas representações sociais próprias expressam identidades virtuais, o que levanta a
questão da unicidade ou multiplicidade da personalidade, como afirmou Turkle (1997, site www.vircio.org), isto é, a personalidade pode ser entendida quer baseada na unicidade e solidez do self, quer vista como constituída por várias identidades.
Logo, do meu ponto de vista, a adopção e reprodução virtual de diferentes identidades podem ser interpretadas como uma manifestação inconsciente da personalidade dos usuários, face a aspectos reprimidos ou complexos psíquicos ou físicos com vista a corresponder aos padrões de comportamento e às exigências culturais e sociais do quotidiano. Deste modo, as identidades virtuais adoptadas representam, e numa pequena alusão à perspectiva de Goffman, os papéis que os internautas desempenham no palco da vida, cujas personagens reproduzidas com personalidades e conteúdos mentais próprios podem ser materializadas de diversas formas. Pode, portanto, falar-se, em personalidades fragmentadas, que podem existir em qualquer indivíduo.
O IRC pode, neste sentido, ser considerado como um espaço onde estas identidades inconscientes podem ter alguma expressão, deste modo, a Internet é um modo de comunicação e interacção entre os indivíduos nunca antes assistida.
A propósito de identidades virtuais é importante explicitar, do ponto de vista conceptual, a noção de Identidade, numa breve referência a P. Berger e Luckman, que defendem que numa sociedade as identidades são facilmente identificadas, quer objectiva, quer subjectivamente, isto é, “cada pessoa é bastante aquilo que parece” (pág.170, “Construção Social da Realidade”). Da perspectiva destes autores, a identidade surge de uma relação entre a sociedade e o indivíduo, sendo construída por processos sociais, face a uma determinada realidade subjectiva, que são condicionados pelo contexto socio-estrutural onde se desenvolve. Certas estruturas sociais produzem tipos de identidades, que podem ser identificados em casos individuais. Isto traduz-se em diferentes tipificações de identidades, que variam de indivíduo para indivíduo, face ao contexto socio-estrutual onde se enquadra. É,portanto, uma identidade enquanto fenómeno social
A partir deste quadro ideológico-conceptual dos autores, pode fazer-se uma conotação objectiva com o cenário de identidades virtuais que se assistem nos chats do IRC, sendo muitas vezes, a postura dos utilizadores apresentada nestas conversas online uma consequência de um conjunto de referências sociais, culturais e ideológicas sustentadas pelo contexto estrutural e estratificado da sociedade actual. É possivel daqui depreender que quando não se verifica uma homogeneidade nas relações sociais dos internautas no seu quotidiano, estes podem sentir-se estigmatizados, o que reflecte, implicitamente, por exemplo, uma falha com comportamentos estereotipados bem como distinções raciais ou físicas.
Há aqui que realçar o conceito de Estigma de Goffman, que apresenta como uma designação social, que consiste num “tipo especial de relação entre atributo e estereotipo”, através da qual se estabelece a diferença, visto que “a sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e o total de atributos considerados comuns e naturais para os membros de cada uma dessas
categorias” (ver bibliografia), o que contraria as atitudes socialmente estabelecidas que constituem quadros de referência à organização das expectativas sociais e modos de comportamentos que se designam por Rituais.
Goffman, com uma obra associada ao interaccionismo simbólico, apresentou um projecto baseado “no modo como se organiza e a experiência do quotidiano” e como os indivíduos pensam e agem, segundo Winkin. O modelo sociológico de Goffman rejeita, portanto, as dimensões macro-estruturais da sociedade, tendo como principal objectivo explicar a estrutura da interacção entre dois ou mais indivíduos em situações de co-presença física, no sentido de perceber as regras de interacção. Logo, a ordem de interacção é um reflexo da estrutura social, em que existem regras quando interagimos. Segundo Goffman, existem factores (idade, sexo, classe, raça) que estão sempre presentes quando interagimos, ou seja, do seu ponto de vista, a interacção social desenvolve-se num universo simbólico que os indivíduos partilham. Este sociólogo apresenta uma perspectiva dramaturgica da sociedade, designando as actividades sociais como um palco, onde os diferentes actores desempenham os papéis de distintas persona-
gens, o que o leva o autor a enunciar também diferentes técnicas e estratégias de actuação. A ideia que surge desta “vida social como drama” é que o actor constrói a realidade social na interacção , através da forma como representa e como a “audiência” reage.
A Internet, e as salas de chat, são um palco que permite actuar e encarnar qualquer tipo de personagens, com a particularidade de desempenhá-las em simultâneo, tendo em atenção que neste tipo de interacção não existe uma situação face-a-face e, portanto, o tal “olhar reprovador” (anexo 1), o que atenua algum tipo de constrangimento ou preconceito social objectivado.
Na interacção de co-presença física, comportamo-nos de acordo com aquilo que os outros
esperam de nós. Há, portanto, que ter sempre em conta os valores, normas e condutas já institucionalizadas pela sociedade para um dado contexto social, assim sendo, a ordem social constrange as acções dos indivíduos. Por conseguinte, quando tal não se verifica há um auto- constrangimento e uma maior propensão para a exclusão social.
A verdade é que, quer pela liberdade individual de acção e expressão que proporciona, quer pela facilidade de comunicação (neste caso a escrita) entre indivíduos conhecidos e desconhecidos, o número de usuários dos chats aumenta diariamente, devido à rápida e progressiva expansão da Internet, que poder-se-á traduzir num vício igual a tantos outros.
Com efeito, na minha perspectiva, a pouca sociabilidade, isolamento social e perda de rendimento no trabalho ou na escola podem constituir uma fronteira social para com a realidade, face à reduzida aptidão para aceitar de maneira realista as probabilidades de êxito das suas acções e coesão com os “outros”. No entanto, e paradoxalmente, em alguns casos, as conversas através do IRC podem tornar-se o mais importante vínculo com o universo exterior. Ao invés de alienantes, os contactos virtuais podem ser integrativos, isto é, tendem a ser uma forma de interacção e aprendizagem, quer social e cultural, quer até de afectos.
Além da possibilidade de anonimato e pluralismo de identidades, as facilidades que a Web nos oferece são quase ilimitadas. O IRC, enquanto meio de comunicação e transmissão de momentos, pensamentos é claramente inovador, pois pela primeira vez na história pode comunicar-se com alguém que não conhecemos pessoalmente, que pode pertencer a outra raça ou estar inserido numa outra civilização ou religião, e falar sobre infinitos assuntos, sem receio de preconceitos físicos ou psicológicos, visto que “somos apenas nicks”.
Este meio electrónico tem vindo a transformar-se numa sociedade com os seus princípios morais próprios e com um grande espírito de liberdade linguístico, como anteriormente exemplifiquei; contudo, apresenta vantagens e desvantagens: as relações de amizade, tolerância, humor e mesmo amor podem considerar-se aspectos positivos ao passo que relações violentas e ofensivas podem ser inconvenientes.
Apesar de, à partida este mundo virtual parecer completamente diferente, considero que acaba por ser um reflexo da sociedade real do quotidiano, na qual os indivíduos estão inseridos. Pelo que constatei, os navegantes do IRC podem tanto manifestar uma ideia de comunidade ou do seu grupo social como evidenciar alguns indícios de hostilidade e até mesmo de alienação (exemplo no anexo 6). Para aqueles que são “socialmente inadaptados”, o IRC pode actuar como um modo de aprendizagem de um comportamento social adequado, dado que se trata de uma realidade menos temível. Pode também ser visto como uma desculpa para os utilizadores se afastarem da realidade face-a-face. E é neste aspecto que as relações estabelecidas nos chats podem ser uma forma de apoio, dada a sua sinceridade, aos internautas. Podem, no entanto, conduzir à relutância de fazer novas amizades fora deste meio(exemplo no anexo1).há ainda que destacar o facto de nos últimos anos o IRC ter vindo a globalizar-se, não sendo um serviço de conversação exclusivamente para jovens, mas cada vez mais adultos e idosos recorrem a este meio de interacção online. Porém, considero que ainda é muito cedo para especular sobre os efeitos sociais que este meio de comunicação, gradualmente conhecido, poderá desencadear nas sociedades humanas. Mas o que é certo é que esta mudança radical, introduzida pela Internet,
Este é um poema escrito por um utilizador deste serviço de conversação interactiva online, que encontrei num site da Internet (www.terravista.pt/fernoronha/5989/momentos.htm).
BIBLIOGRAFIA:
-
“Construção Social da realidade” , de Peter Berguer e David Luckmann
-
“A apresentação do eu na vida de todos os dias”, de Erving Goffman