A Educação como factor conductor determinante no comportamento dos personagens em “Os Maias” e o “Crime do Padre Amaro”.

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A Educação como factor conductor determinante no comportamento dos personagens em “Os Maias” e o “Crime do Padre Amaro”.

Abstract

O tema base deste trabalho esta inteiramente ligado literatura Portuguesa. É um estudo comparativo entre duas obras, nomeadamente “ Os Maias”  e “ O Crime do Padre Amaro”, ambas de Eça de Queirós, sendo a educação tema principal.

        A educação sera exposta como elemento condutor do destino de cada um dos personagens mencionados, Carlos da Maia, Pedro da Maia, e Amaro Vieira.

        Cada um destes personagens foi vitíma de um método educativo diferente. Pedro e Amaro , foram educados segundo o método tipicamente português, conservador e oitocentista. Uma educação inteiramente dedicada a aprendizagem da cartilha, das linguas mortas  como latim  e à aprendizagem teórica das coisas. Não dando qualquer aspecto prático da vida.

Carlos, por sua vez, foi educado por Afonso, seu avô. Este vendo o triste desenlace de Pedro, seu filho, decidiu educar o seu neto de uma maneira completamente diferente. Apostou na educação inglesa onde se salinetava a importância da aprendizagem das lingúas vivas, o contacto directo com a natureza, a forma física e a abolição da cartilha.

        Estes dois metodos educativos tão diferentes irão conduzir os personagens  ao fracasso. Uma análise cuidada irá completar-se, dando especial importância à ligação dos personagens em si, para detereminar qual o factor  que levou cada um dos personagens a ruína pessoal.

        É extremamente importante para uma  formação completa dum individuo, a presença de dois  grandes factores e aqui sua educação de infância. Refiro-me ao uso da Razão e dos Sentimentos. Estes estão interligados e agem em simultâneo. A falha de um deles terá efeitos verdadeiramente  supreendentes na formação pessoal de um individuo como se verá nestes personagens.

Aderindo às teorias do Realismo iconoclasta, Eça passa a escrever obras de combate às instituições vigentes (monarquia, Igreja, Burguesia e) e de acção e reforma social. Taís romances como os Maias e o Crime do Padre Amaro, entre outros, associam-se ao da geração de 70 retratando uma sociedade portuguesa deformada.

Eça utiliza com subtileza a ironia, a sátira e coloca em ridículo as personagens escolhidas como exemplo típicos duma sociedade hipócrita. São romances de actualidade, crónica de costumes, ainda hoje relativamente vivos, graças à focalização de algumas mazelas constantes no homem.

Eça tenta por isso oferecer um painel tão variado quanto possível da sociedade portuguesa.

Com os Maias, Eça volta para examinar a sociedade lisboeta em todas as suas vertentes sociais recorrendo a construção de um retrato da sociedade do século XIX, pondo em evidência os pensamentos ideológicos das personagens.

O romance gira em torno duma intriga principal que é o caso do incesto, que só se desvenda no final, servindo assim Eça, a imagem de uma sociedade aristocrática portuguesa em  decomposição. Em os Maias há uma preocupação em narrar com pormenor a realidade e inerente a isso está patente uma análise crítica e objectiva de sociedade da segunda metade do século XIX.

Como tal, também os episódios da vida romântica, são assim expostos e criticados através de personagens-tipo que representam e denunciam a corrupção, a frivolidade, a superficialidade, a ignorância e as mentalidades retrógradas. Assim , a obra dá-nos uma imagem mais negativa da sociedade onde imperam os vícios, a falta de valores e até a própria educação dos personagens principais é posta em causa.

Ao focar o tema da educação patente nas duas obras, pretendo delinear os parâmetros pelos quais os personagens Pedro, Carlos, Maria Eduarda, Amaro e Amélia falharam enquanto indivíduos educados de formas diferentes.

É imprescindível começar por Afonso da Maia, já que é uma das figuras centrais da obra, que convém referir, à luz das relações que este manterá com seu filho Pedro e posteriormente com o seu neto Carlos.

Afonso representa um paradigma moral, síntese das virtudes do Portugal velho. Ele é sem dúvida, um homem culto, de bom gosto, lúcido, generoso, mas a quem falta autoridade para incitar o seu neto ao trabalho, tornando-o inactivo e diletante.

Já na mocidade, as suas convicções políticas e religiosas se mostram inconsistentes e pouco concretizáveis. Afonso provoca a indignação do pai lendo Rousseau e Helvecio e quando  é castigado e enviado para Santa Olavia, pede ao pai que o envie para Inglaterra. E na Inglaterra, tanto quanto sabemos, esquece-se por completo dos ideais e lutas dos correligionários.«Durante os dias da Abrilada estava ele nas corridas de Epson(...), bem indiferente aos seus irmãos da Maçonaria».

O espectáculo de Lisboa miguelista irrita-o e incomoda-o mas em nada contribui para o  modificar. Refugia-se de novo na Inglaterra, onde o encantava « os parques de luxo, os copiosos confortos».1

O mole individualismo que vence Carlos mais tarde,  estava-lhe na massa do sangue, isto é, vinha-lhe do avô.

Quando o filho Pedro enlouquece de paixão, seu pai ganha atitudes de pai tirano convencional e aparece rígido e inexorável.

Ora a educação de Pedro foi uma educação conservadora, tipicamente portuguesa.  Pedro herdou muito do lado da mãe , os Runas. As igrejas, e devoção dos Runas excluía tudo o que não fosse católico e português e este foi educado segundo a cópia de sua mãe. É-lhe imposto uma educação religiosa quando sua mãe manda vir de Lisboa o padre Vasques. A educação foi um factor decisivo para a falha de preparação para a vida.

O ensino da cartilha, a fuga ao contacto directo com a natureza, isola-o da realidade, a sua incapacidade em desobedecer ao padre Vasques, e a influência da mãe na sua educação foram tudo elementos decisivos para a sua (de)formação enquanto jovem. Daí a sua falha tanto na  preparação para a vida, como a fuga às responsabilidades e o temperamento nervoso e instável leva-o a uma vida adulta dissipada, turbulenta e de estroinice.

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« o Pedrinho no entanto estava quase um homem. Ficara pequenino e nervoso como Maria Eduarda, tendo pouco da raça, da força dos Maias; a sua linda face oval de um trigueiro cálido, dois olhos maravilhosos e irresistíveis prontos a humedecer, sem curiosidades, indiferente a brinquedos, a animais, a flores, a livros. Nenhum desejo forte parecera jamais vibrar naquela alma meio adormecida e passiva: só as vezes dizia que gostaria muito de voltar para a Itália. Fora educado dentro de uma educação tipicamente portuguesa oitocentista e conservadora. Tomara birra ao padre Vasques, mas não ousava desobedecer-lhe. Era  em tudo um ...

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