Eça de Queirós

- Vida e Obra -

e

- A Geração de 70 e a Questão Coimbrã -

João Augusto Matos De Carvalho, nº14, 11ºA

Escola Secundária Alcaides de Faria, 2002-2003

Terça-feira, 29 de Abril de 2003


Índice:

  3. Eça de Queirós – Vida e Obra

  8. Eça e o Brasil | Eça e o Oriente

  9. A Geração de 70 e a Questão Coimbrã

12. Bibliografia


Eça de Queirós – Vida e Obra

José Maria Eça de Queirós nasceu na Póvoa do Varzim a 25 de Novembro de 1845 em situação moral irregular, facto que tem sido empolado, ligando-o a uma certa temática da sua obra. Filho natural do magistrado José Maria de Almeida Teixeira de Queiroz e D. Carolina Augusta Pereira de Eça, é registado como filho de “mãe incógnita” (lê-se no assento do seu baptismo). O pai do escritor era, nesse tempo, delegado do Procurador Régio em Ponte de Lima; a «mãe incógnita» era filha do coronel José António Pereira D’Eça na altura já falecido. Devido á sua situação irregular,  Eça é baptizado e criado por uma ama (alguns documentos referem que esta era sua madrinha) em Vila do Conde sendo depois levado para casa dos avós em Verdemilho, perto de Aveiro, onde vive até 1855, embora os seus pais só se tenham casado quatro anos após o seu nascimento. Só aos 10 anos, quando os seus avós paternos faleceram, vai viver com os seus progenitores, no Porto, onde o seu pai exercia o cargo de juiz e Eça ingressa como aluno interno no Colégio da Lapa (dirigido pelo pai de Ramalho Ortigão), onde foi aluno do próprio Ramalho.

Feitos os estudos preparatórios, parte para Coimbra em 1861, onde ingressa no curso de Direito. Aí liga-se ao famoso grupo académico chamado Escola de Coimbra que, sob a chefia de Antero de Quental e Teófilo Braga, levanta-se contra um grupo de escritores de Lisboa (Escola do Elogio Mútuo), sob a orientação de Feliciano de Castilho.

Os anos de Coimbra, onde se entrecruzam fortes correntes românticas e positivistas, são os mais decisivos da sua formação intelectual e cívica, ao integrar uma geração que foi, no dizer do seu líder, Antero de Quental, “a primeira em Portugal que saíu decididamente e conscientemente da velha estrada da tradição.” Eça de Queirós faria mais tarde o retrato dessa geração coimbrã num texto de grande beleza formal denominado Antero de Quental, recolhido postumamente nas Notas Contemporâneas, onde regista os acontecimentos e descobertas culturais que fizeram a sua orientação mental e evoca o convívio com o poeta dos Sonetos.

O espírito inconformista que percorre todas as suas páginas, crónicas jornalísticas, ensaios e romances, parece radicar nesses anos de Coimbra, de que guardará visível saudade, ainda que tenha persistentemente invectivado a Universidade, chamando-lhe “madrasta amarga e carrancuda”. Não é assim de estranhar que tenha feito passar por Coimbra a quase totalidade dos protagonistas da sua novelística, que aí vivem a sua própria experiência estudantil, como Gouveia Ledesma, o Raposão, Artur, Damião, Carlos da Maia, João da Ega, Vítor, Alípio Abranhos, Teodoro, Carlos Fradique Mendes, Gonçalo Mendes Ramires, José Fernandes e Jacinto.

No fim do seu curso, muda-se para Lisboa, onde volta a estar com os seus progenitores pois o seu pai tinha sido transferido. Vivia em casa dos pais, no Rossio, 26, 4º andar, inscrevendo-se como advogado no Supremo Tribunal de Justiça.

Em 1867 inicia a sua actividade como advogado, que divide juntamente com a prática do jornalismo.

Em 1866, inicia a publicação de folhetins na Gazeta de Portugal num total de dez artigos que serão reunidos em Prosas Bárbaras. Óscar Lopes, na História da Literatura (17ª ed. p. 859), referiu a escrita desses folhetins “como se fosse uma catarse de medos e superstições inconfessáveis”, ou seja, qualquer coisa de profundo e incontido que viria a ecoar na poesia de Cesário Verde, Eugénio de Castro e Camilo Pessanha.

Conhece Jaime Batalha Reis na Redacção da Gazeta de Portugal e parte para Évora no final do ano, onde irá fundar e dirigir o jornal da oposição “Distrito de Évora”, mantendo a sua colaboração na Gazeta de Portugal. Vive nesse tempo, uma experiência jornalística de grande fôlego, onde põe à prova os seus dotes de escritor.

No final do ano forma-se o Cenáculo, contando-se Eça entre os primeiros membros; dele farão parte Salomão Saragga, Jaime Batalha Reis, Augusto Fuschini, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, José Fontana, entre outros.

Nesta altura da vida, por influência de Antero, começou a entregar-se ao estudo de Proudhon e aderiu ao grupo do «Cenáculo». Em 1869 teve o desejo de assistir à inauguração do canal de Suez e viajou pela Palestina. Muito do que então presenciou havia de servir-lhe para compor mais tarde O Egipto e A Relíquia.

Os primeiros versos de Carlos Fradique Mendes, “o poeta satânico”, são publicados na Revolução de Setembro. Por 1870, colaborou com Ramalho n’O Mistério da Estrada de Sintra, proferiu uma conferência no «Casino» e iniciou a publicação d’As Farpas, pequenos cadernos de sátira social, cultural e política, que lhe permitem fazer uso do seu talento ironista e humorista. A sua colaboração será mais tarde revista e reeditada com o título de Uma Campanha Alegre (1890). Tais páginas representavam, como escreveu, “o trait, a pilhéria, a ironia, o epigrama, o ferro em brasa, o chicote, posto ao serviço da revolução.” A sua vocação de escritor realista manifestava-se aos poucos.

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Passa por Leiria, como Administrador do Concelho, durante seis meses. Observa a vida social provinciana que lhe dá matéria para o primeiro romance realista português, “O Crime do Padre Amaro”, que surge cinco anos mais tarde, em 1875.

“Associando uma profunda vocação de escritor a um temperamento crítico excepcional, Eça acreditava que a sua arte de grande observador, inspirada por um ideal superior de justiça e de consciência social, podia contribuir para arrancar Portugal do atraso endémico em que se encontrava e para a reforma dos costumes e das mentalidades. O seu humor era feito de riso, "o riso que ...

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