Ourives da Rainha D. Leonor, em meados da primeira década do século XVI, Gil Vicente tornara-se "mestre da balança" da Casa da Moeda de Lisboa, abandonando o cargo em 1517 passando a ser funcionário de Rei. Também se sabe que Gil Vicente, já em 1520, tinha ordem do rei D. Manuel I para escrever, organizar e ensaiar os autos para a corte. Não compilar todas as suas peças.
Gil Vicente viveu entre o fim da Idade Média e o início do Renascimento português; é por isso a sua obra reflecte valores sociais, religiosos e culturais de uma forma diversificada. Como poeta lírico e dramático e como crítico, tem uma mente satírica e reformadora observando a sociedade e o comportamento de típicos grupos humanos.
A produção textual vicentina geralmente é dividida em três géneros: o auto de moralidade, a alegoria e a farsa.
Estas foram das assinaturas usadas por Gil Vicente ao longo da sua vida. Pensa-se que mudou de rubricas devido à sua ascensão social: de ourives, passou a funcionário do Rei e também um autor célebre.
A história das suas obras:
Perfil literário:
Gil Vicente foi sem dúvida um homem que viveu um conflito interno, devido à transição da Idade Média para o Renascimento. Isto quer dizer que foi um homem ligado ao medievalismo e ao mesmo tempo ao humanismo, ou seja, um homem que pensa em Deus mas exalta o homem livre.
O Autor critica na sua obra, de forma impiedosa, toda a sociedade do seu tempo, desde os membros das mais altas classes sociais até aos das mais baixas. Contudo, as personagens por ele criadas não se sobressaem como indivíduos. São sobretudo tipos que ilustram a sociedade da época, com as suas aspirações, os seus vícios e seus dramas. Esses tipos utilizados por Gil Vicente raramente aparecem identificados pelo nome. Quase sempre, são designados pela ocupação que exercem ou por algum outro traço social (sapateiro, onzeneiro, ama, frade, bispo, alcoviteira etc.). Pode-se dizer que as personagens são simbólicas, ou seja, simbolizam vários comportamentos humanos.
Os membros da Igreja são alvo constante da crítica vicentina. É importante focar que, no entanto, o espírito religioso na obra do autor, jamais critica as instituições, os dogmas ou hierarquias da religião, mas sim os indivíduos que as corrompem.
Acreditando na função moralizadora do teatro, colocou em cenas factos e situações que revelam a degradação dos costumes, a imoralidade dos frades, a corrupção no seio da família, a imperícia dos médicos, as práticas de feitiçaria, o abandono do campo para se entregar às aventuras do mar.
“Ridendo castigat mores’’