Após a criação da Igreja Anglicana, surgiram, com os sucessores de Henrique VIII, uma série de Lutas religiosas internas. Primeiro, tentou-se implantar, no governo de Eduardo VI (1547-1553), o Calvinismo no país. Depois, no governo de Maria Tudor (1553-1558), filha de Catarina de Aragão, houve a reação católica. Somente no governo de Elisabeth I (1558-1603) é que se consolidou a Igreja Anglicana, que permanece dominante no país até hoje. O calvinismo puritano conseguiu, entretanto, grande número de adeptos entre a burguesia, entretanto, grande número de adeptos entre a burguesia manufatureira. Foi dos puritanos que surgiram os grandes líderes da Revolução inglesa do Século XVII.
A FORMA E O CONTEÚDO DA REFORMA ANGLICANA
A Igreja Anglicana procurou desenvolver uma conciliação original entre o rito tradicional do catolicismo e o dogma de caráter protestante. Em outras palavras, mantinha-se nas cerimônias a forma católica (conservação da liturgia católica, da hierarquia eclesiástica etc.) e introduziam-se na doutrina elementos do conteúdo protestante (salvação pela fé, preservação de apenas dois sacramentos - batismo e comunhão etc.).
Essa foi a solução encontrada pela monarquia inglesa para favorecer, no país, a convivência social dos diferentes grupos religiosos rivais. Assim, de acordo com as circunstâncias históricas de cada momento, a monarquia inglesa dirigia a Igreja Anglicana para enfatizar a forma católica ou o conteúdo protestante. Se quisesse agradar aos protestantes, valorizava o conteúdo dos cultos; se quisesse agradar aos católicos, valorizava o rito formal das cerimônias.
A REFORMA CATÓLICA OU CONTRA-REFORMA
Diante dos movimentos protestantes, a reação inicial e imediata da Igreja Católica foi a de punir os líderes rebeldes, na esperança de que as idéias dos reformadores não se propagassem e o mundo cristão recuperasse a unidade perdida. Essa tática, entretanto, não deu bons resultados, já que o movimento protestante avançou pela Europa, conquistando crescente número de seguidores. Era forçoso, assim, reconhecer a ruptura protestante.
Diante disso, ganhou força dentro do Catolicismo um amplo movimento de moralização do clero e reorganização das estruturas administrativas da Igreja. Esse movimento de reformulação da Igreja Católica ficou conhecido como Reforma Católica ou Contra-Reforma. Seus principais líderes foram os Papas Paulo III (1534-1549, Paulo IV (1555-1559), Pio V (1566-1572) e Xisto V (1585-1590).
Todo um conjunto de medidas foi colocado em prática pelos líderes da Contra-Reforma, tendo em vista deter o avanço do protestantismo. Entre essas medidas, destacam-se as seguintes:
* Aprovação da Ordem dos Jesuítas: no ano de 1540, o Papa Paulo III aprovou a criação da Ordem dos Jesuítas ou Companhia de Jesus, que tinha sido fundada pelo militar espanhol Inácio de Loyola, em 1534. Inspirando-se na estrutura militar, os jesuítas consideravam-se os soldados da Igreja, sua tropa de elite, cuja missão era combater a expansão do protestantismo. Entretanto, o combate deveria ser travado com as armas do espírito, e para isso Inácio de Loyola escreveu um livro básico, chamado Os exercícios espirituais, em que se propunha a programar a conversão do indivíduo ao catolicismo, mediante técnicas de contemplação. A criação de escolas religiosas foi um dos principais instrumentos da estratégia dos jesuítas. Outra arma utilizada foi a catequese dos não-cristãos, isto é, os jesuítas empenharam-se em converter ao catolicismo os povos dos continentes recém-descobertos. O objetivo era expandir o domínio católico para os demais continentes;
* Convocação do Concílio de Trento: no ano de 1545, o Papa Paulo III convocou um Concílio, cujas primeiras reuniões foram realizadas na cidade de Trento, na Itália. Ao final de longos anos de trabalho, terminados em 1563, o Concílio apresentou um conjunto de decisões destinadas a garantir a unidade da fé católica e a disciplina eclesiástica. Reagindo às idéias protestantes, o Concílio de Trento reafirmou diversos pontos da doutrina católica, como, por exemplo:
- Salvação humana: depende da fé e das boas obras humanas. Rejeitava-se, portanto, a doutrina da predestinação;
- Fonte da fé: o dogma religioso tem como fonte a Bíblia, cabendo à Igreja dar-lhe a interpretação correta, e a tradição religiosa, conservada pela Igreja e transmitida às novas gerações. O Papa reafirmava sua posição de sucessor de Pedro, a quem Jesus Cristo confiou a construção de sua Igreja;
- A missa e a presença de Cristo: a Igreja reafirmou que no ato de eucaristia ocorria a presença real de Jesus no pão e no vinho. Essa presença real de Cristo era rejeitada pelos protestantes.
O Concílio de Trento determinou, ainda, a elaboração de um catecismo com os pontos fundamentais da doutrina católica, a criação de seminários para a formação dos sacerdotes e a manutenção do celibato sacerdotal;
* Restabelecimento da Inquisição: no ano de 1231 a Igreja Católica criou os Tribunais de Inquisição, que, com o tempo, reduziram suas atividades em diversos países. Entretanto, com o avanço do protestantismo, a Igreja decidiu reativar, em meados do século XVII o funcionamento da Inquisição, que se encarregou, por exemplo, de organizar uma lista de livros proibidos aos católicos, o Index librorum prohibitorum. Uma das primeiras relações de livros proibidos foi publicada em 1564.
Sécs. XVII e XVIII
Influência da Reforma e Contra-reforma
Dúvidas e incertezas quanto aos dogmas religiosos, entre o religião e a ciência que começava a nescer na época.
Principais autores: Padre Antônio Vieira & Gregório de Mattos
Origem: Espanha
Duas correntes:
1) CULTISMO - valorização da forma / abuso de metáforas e hipérboles / apelo ao sensorial
2) CONCEPTISMO - valorização do conteúdo, das idéias / jogo de conceitos / retórica aprimorada
Uso de figuras de linguagem como: metáfora, hipérbole (exagero), hipérbato (inversão da ordem sintática da frase), antítese (figuras de oposição).
Excesso de adjetivos
Reforma e Contra-Reforma
O movimento reformista deu-se num período em que as exigências espirituais dos fiéis já não mais encontravam respaldo na Igreja Católica. Ao final da Idade Média, havia um clima de total inquietação religiosa entre a população européia, que se sentia culpada e certa de que seria castigada após a morte. Contribuiu para isso as desgraças que marcavam a época (guerras, pestes) e as profecias de pregadores populares, que viam aqueles anos como prenúncio do Juízo Final. A Igreja Católica tirava proveito desse contexto. Seus representantes entoavam sermões apocalípticos, denunciavam pecados e exigiam do povo que recebesse, com passividade, seu destino. Havia, contudo, uma maneira de se salvar: as indulgências. Em resumo, os pontífices vendiam a salvação aos seus fiéis e, em virtude da mentalidade da época, isso gerou lucros fabulosos para a Igreja, que explorava uma população já miserável e carente, desvirtuando-se totalmente de sua mensagem original: a da fé. Para completar, inúmeros indivíduos que exerciam atividades eclesiásticas eram completamente despreparados para a função e preocupavam-se exclusivamente com os lucros fáceis que ela, e a posição social que dela advinha, gerava. No entanto, certos teólogos passaram a denunciar todo esse panorama e, gradualmente, a Igreja Católica caiu em descrédito. Membros da elite intelectual eclesiástica passaram a estudar novas formas de espiritualidade, baseando-se no humanismo, misticismo, filosofia clássica e outras vertentes do pensamento humano. Porém, aquele que detonou a Reforma foi Martinho Lutero. Seu pensamento foi concebido a partir das Cartas de São Paulo e, em suma, pregava que Deus julgava os mortais por sua fé e não por seus pecados e obras. Assim, era impossível atribuir-se valor a obras de caridade: condenava-se a prática da venda de indulgências. Lutero foi mais longe, afirmando que apenas Deus perdoava, sendo que o papa ou poder algum possuía nesse sentido. A reação da Igreja Católica foi imediata. Toda a classe eclesiástica repudiou as convicções de Lutero e proibiu que seus fiéis a seguissem. Mas logo o luteranismo difundiu-se, com o apoio de intelectuais, humanistas, estudantes e da nobreza, que sonhava em abocanhar os bens da Igreja. A partir daí, inúmeras religiões foram formadas, sempre tendo um pensador central como seu mentor. Ulrich Zwinglio, João Calvino (Calvinismo) e Henrique VIII (Anglicanismo), dentre muitos outros, fundaram suas próprias religiões, impulsionando a revolução protestante. Contudo, a partir de meados de 1540, a Igreja Católica contra-atacou. Condenou o protestantismo e instituiu a Santa Inquisição, que perseguia todos aqueles que se guiassem pelas novas crenças em detrimento da ortodoxia católica. A Inquisição deu resultado na Itália e, principalmente, na Espanha. Paralelamente a isso, os candidatos à vida eclesiástica passaram a ser cuidadosamente selecionados e submetidos a uma rigorosa educação antes de passar a exercer suas funções espirituais, criou-se ordens (como a dos capuchinhos e a Companhia de Jesus) para disseminar a religião e proibiu-se a leitura de diversos livros reformistas. O intuito era brecar o avanço protestante e, apesar de apenas reafirmar todos os seus ortodoxos preceitos, a Contra-Reforma permitiu que a Igreja Católica continuasse sustentando-se nessa nova era.
Corresponde ao movimento que se estendeu do final do século XVI a meados do século XVIII, num contexto social, cultural e econômico bastante complexo.
A Europa estava dividida pela Reforma e Contra-Reforma. A Reforma avançava nos países mais ligados ao capitalismo, onde a burguesia se fortalecia em detrimento da nobreza. Por outro lado, a Contra-Reforma foi a solução encontrada pelos países onde a aristocracia e a Igreja Católica não se conformavam em perder o poder constituído há séculos.
Assim, surge, na Espanha e em Portugal, a Santa Inquisição, impondo repressão e censura aos ideais burgueses liberais e capitalistas, em paralelo à Companhia de Jesus, que se incumbiu da severa educação, da mais elementar à universitária.
Culturalmente, nesses dois países o Renascimento exerceu forte influência ao despertar o valor do ser humano, ao retomar as propostas da antigüidade greco-romana, conflitando assim com as diretrizes da Igreja Católica, de origens medievais.O resultado foi o homem tendo que conciliar a glória e a valorização do ser humano, proveniente do Renascimento, com as idéias de pequenez e submissão a Deus e à Igreja. O resultado foi uma arte em que o autor via-se entre o céu e a terra, consciente de sua grandeza mas perseguido pela questão do pecado, o que o faz buscar a salvação, expressando-se numa forma mais emocional que racional, tentando conciliar a vida e a morte, o amor e o sofrimento.
No Brasil, o novo movimento chegou numa época em que o centro econômico, politíco e social era a Bahia, onde a produção de açúcar se constituía na principal riqueza. Assim, muito se falou sobre esse tema. Considera-se entretanto que o primeiro escrito barroco no Brasil foi o poema Prosopopéia, de Bento Teixeira, editado em 1601, de forte influência espanhola, uma vez que Portugal ainda se encontrava sob seu domínio político. Também Gregório de Matos, o primeiro poeta boêmio do Brasil, e o padre Antonio Vieira foram figuras fundamentais no movimento Barroco brasileiro, que se encerrou em 1768, com o surgimento do Arcadismo.
Reforma e Contra-Reforma
Conjunto de movimentos de caráter religioso, político e econômico que contestam os dogmas católicos, entre 1517 e 1564. Tem início na Alemanha e provoca a separação de uma parte da comunidade católica da Europa, originando o protestantismo. Ocorre paralelamente ao renascimento cultural humanista, às insurreições da nobreza, às rebeliões camponesas, à expansão do mercantilismo e do sistema colonial e às guerras entre as monarquias européias. Estes movimentos entre os católicos reivindica a reaproximação da Igreja do espírito do cristianismo primitivo. A resistência da hierarquia da Igreja leva os reformadores a constituírem confissões independentes. Os Papas exerciam poder espiritual e também poder temporal, ou seja como o de qualquer outro governante de um país. O comportamento de parte do clero estava envolvido em interesses econômicos ou políticos, entrava em contradição com a doutrina da Igreja. Muitos cristãos, opondo-se a essa situação, sentiam a necessidade de uma volta aos ensinamentos de Cristo e de seus apóstolos e pregavam uma reforma dos costumes. Os principais reformadores são Martinho Lutero e João Calvino, no século XVI. A Reforma difunde-se rapidamente na Alemanha, Suíça, França, Holanda, Escócia e Escandinávia. No século XVI surge a Igreja Anglicana e, a partir do século XVII, as igrejas Batista, Metodista e Adventista. As igrejas nascidas da Reforma reúnem cerca de 450 milhões de fiéis em todo o mundo. No início do século XVI, a Igreja sofria de males profundos que necessitavam de remédio urgente. O papado perdera prestígio devido à sua preocupação excessiva pelas artes, pelas letras, pela cultura pagã do Renascimento e pelo seu envolvimento em disputas políticas. A Igreja reconheceu estes abusos mas não teve coragem para empreender a necessária reforma geral. Surgiu, então, o movimento denominado Reforma Protestante, iniciado na Alemanha Martinho Lutero. Martinho Lutero (1483-1546) nasce em Eisleben, Alemanha, numa família camponesa. Em 1501 ingressa na Universidade de Erfurt, onde estuda artes, lógica, retórica, física e filosofia e especializa-se em matemática, metafísica e ética. Entra para o mosteiro dos eremitas agostinianos de Erfurt em 1505, torna-se sacerdote e teólogo. Em 1517, o Papa Leão X mandou alguns padres dominicanos à Alemanha com a finalidade de arrecadarem esmolas para o término da construção da Basílica de São Pedro. O monje agostiniano Martinho Lutero, professor da Universidade de Wittenberg, protestou, afirmando não ver nessa atitude da Igreja nenhum valor espiritual. Para justificar seu protesto contra o que chamou de venda de indulgencias e suas críticas a conduta das autoridades eclesiásticas, Lutero afixou na porta principal da Catedral de Winttenberg 95 teses, que condenavam a venda de indulgencias e outros abusos do clero, pregando a salvação pela fé somente, sem a necessidade de praticar boas obras( dar esmolas por exemplo). Lutero Denuncia as deformações da vida eclesiástica em 1517. O Papa enviou a Alemanha um cardeal para tentar obter de Lutero uma retratação. Lutero , no entanto, permaneceu firme em suas críticas e, em 1520, foi acusado de herege condenado é excomungado pelo papa Leão X e banido por Carlos V, imperador da Alemanha, em 1521,o que o levou a queimar em praça pública, diante de milhares de pessoas, a bula papal que o condenara. No dia seguinte, Carlos V, rei da Espanha e imperador da Alemanha, para evitar aumentassem a controvérsia e a revolta entre os príncipes alemães do seu Império, convocou Lutero para se apresentar e defender suas idéias numa Diéta (assembléia), que se realizaria na cidade de Worms com a participação de todos estes príncipes. Em Worms, onde deveria justificar suas atitudes, Lutero reafirmou suas posições e para não ser preso refugiou-se no Castelo de Wartburg, sob a proteção de um nobre que tentava libertar seus domínios do poder político da Igreja e do Imperador católico Carlos V. Escondido no castelo de Wartburg e apoiado por setores da nobreza, traduz para o alemão o Novo Testamento dando base a Doutrina Luterana. Abandona o hábito de monge e casa-se com a ex-freira Catarina von Bora, em 1525. Durante sua permanência em Wartburg, Lutero traduziu a Bíblia para o Alemão. Doutrinas dos reformadores – Os pontos centrais da doutrina de Lutero são a justificação de Deus só pela fé e o acesso ao sacerdócio para todos os fiéis. Lutero, nega o valor dos sacramentos(conservando o batismo e a eucaristia, esta com valor essencialmente simbólico), o culto dos santos e o valor da missa . Afasta por completo a autoridade e a hierarquia da Igreja e do Papa, afirmando que "todo fiel é padre". Nega também que o homem seja livre para praticar o bem e o mal. Calvino acrescenta a doutrina da predestinação dos fiéis. As diferenças doutrinais entre os dois dão origem a duas grandes correntes: os luteranos e os calvinistas. A Reforma abole a hierarquia e institui os pastores como ministros das igrejas. As mulheres têm acesso ao ministério e os pastores podem se casar. A liturgia é simplificada e os sacramentos praticados são o batismo e a ceia. Apoio a Lutero – Com a simpatia de diferentes setores da nobreza e camponeses o protestantismo de Lutero difunde-se rapidamente na Alemanha, provoca uma série de conflitos com os católicos e com Carlos V. Isto resulta na dissolução das ordens monásticas, na revogação do celibato clerical, na secularização dos bens da igreja pela nobreza e na substituição da autoridade eclesiástica pela autoridade do Estado. Na esteira dos protestos de Lutero surgem seitas e rebeliões que contestam a autoridade de Roma. Grupos místicos surgem em Waldshut, Nuremberg, Suábia, Silésia, Leiden e Münster. Esta situação de instabilidade deu origem a uma série de revoltas, dentre as quais se destacaram: A dos Cavalheiros, promovida por pequenos nobres que, cobiçando territórios e bens pertencentes à Igreja, tentavam apossar-se deles; A dos Camponeses, que, baseando-se nos exemplos dados pelos senhores durante vários anos, disseminaram o terror por todo o sul do Império alemão, levando Lutero a optar por uma das classes a apoiar. Para não perder o apoio dos nobres(Cavalheiros), Lutero condenou com muito rigor os Camponeses, chegando-se ao extermínio por parte dos Cavalheiros de mais ou menos cem mil pessoas. O CALVINISMO João Calvino (1509-1564) nasce em Noyon, França, filho de um secretário do bispado de Noyon. Em 1523 ingressa na Universidade de Paris, estuda latim, filosofia e dialética. Forma-se em direito e, em 1532, publica Dois livros sobre a clemência ao imperador Nero, obra que assinala sua adesão à Reforma. Em 1535, já é considerado chefe do protestantismo francês. Perseguido pelas autoridades católicas refugia-se em Genebra. Organiza uma nova igreja, com pastores eleitos pelo povo, e o Colégio Genebra, que se torna um dos centros universitários mais famosos da Europa. Pela dogmática do francês João Calvino, refugiado em Genebra, o homem está predestinado à salvação ou à condenação. Pode salvar-se quem santificar a vida cumprindo seus deveres. A Igreja e o Estado devem estar separados, com predomínio da primeira. Ética protestante – Calvino considera o cristão livre de todas as proibições não explicitadas nas Escrituras, o que torna as práticas do capitalismo lícitas, em especial a usura, condenada pela Igreja Católica. De acordo com a teoria da predestinação, a idéia de que Deus concede a salvação a poucos eleitos, o homem deve buscar o lucro por meio do trabalho e da vida regrada. Surge a identificação da ética protestante com o capitalismo, que se torna atraente para a burguesia. Reforma anglicana Henrique VIII (1491-1547) nasce em Greenwich e torna-se herdeiro do trono da Inglaterra em 1502, após a morte do irmão mais velho. Em 1509 é coroado e casa-se com Catarina de Aragão, a viúva de seu irmão. Poliglota, esportista e estudioso de teologia, retoma a doutrina de Lutero, o que lhe vale o título de defensor da fé, concedido pelo papa Leão X. Com o apoio do Parlamento e do povo, descontente com os privilégios e poderes eclesiásticos, Henrique VIII rompe com a Igreja Católica e cria o anglicanismo. É reconhecido como chefe supremo da Igreja da Inglaterra. O rei passa a ser o chefe supremo da Igreja Anglicana ou Episcopal e o seu líder espiritual é o arcebispo de Canterbury. A Reforma anglicana é promulgada em 1534 pelo rei Henrique VIII. Usa como pretexto a recusa do papa em aceitar seu divórcio da rainha espanhola Catarina de Aragão, tia de Carlos V da Espanha, para casar-se com Ana Bolena, uma dama de sua corte, que três anos depois é decapitada por adultério por casa-se mais quatro vezes. Da Inglaterra, difunde-se para as colônias, especialmente na América do Norte. As igrejas Católica e Anglicana são semelhantes quanto à profissão de fé, a liturgia e os sacramentos, mas a igreja episcopal não reconhece a autoridade do papa e admite mulheres como sacerdotes. A primeira mulher a exercer o ministério episcopal é a reverenda Barbara Harris, da diocese de Massachusetts (EUA), consagrada em 1989. Entre 1553 e 1558 ocorre a reação católica, com o reinado de Maria Tudor. Seu casamento com Felipe II da Espanha transforma a reforma religiosa numa questão nacional. Entre 1559, sob Elisabeth I, é renovada a soberania da Coroa sobre a igreja e ratificada a liturgia anglicana, tendo por base a confissão calvinista reformada. CONTRA-REFORMA Compreende o conjunto das medidas adotadas pela Igreja através da autoridade do Papa Paulo III, em 1545, para defender-se, como as reformas internas, a fundação da Companhia de Jesus e o Concílio de Trento. Cria novas ordens eclesiásticas, como a dos teatinos, capuchinhos, barbabitas, ursulinas e oratorianos. Concílio de Trento – De 1545 a 1563, convocado por Paulo III para assegurar a unidade de fé e a disciplina eclesiástica. Regula as obrigações dos bispos e confirma a presença de Cristo na eucaristia. São criados seminários como centros de formação sacerdotal e reconhece-se a superioridade do papa sobre a assembléia conciliar. São restaurados também os Tribunais da inquisição, que viriam a funcionar principalmente na Itália, França, Espanha e Portugal, sob o nome de Santo Ofício, julgando e condenando cristãos acusados de infidelidade, heresia, cisma, magia, poligamia, abuso dos sacramentos etc. É instituído o índice de livros proibidos (Index Librorum Prohibitorum) e reorganizada a Inquisição. Companhia de Jesus – Criada em 1534 por Inácio de Loyola. Com organização militar e disciplina rígida, coloca-se incondicionalmente a serviço do papa. Desempenha papel fundamental na renovação da Igreja, na luta contra os hereges e na evangelização da Ásia e Américas.
REFORMA E CONTRA-REFORMA POLÍTICA
Por: Haroldo Lima - dep. fed. PCdoB/Ba, - Comitê Centra
Em: 31 / 10 / 2000
Logo após a grande vitória oposiconista do segundo turno, forças distintas começaram a falar em mudanças no sistema eleitoral. Imediatamente algumas lideranças, dessas já marcadas, puseram-se a agitar a contra-reforma política reacionária, elitista e oportunista que pregam e que chamam de "reforma-política". O vice-presidente Marco Maciel e os senadores Jorge Borhausen e Sérgio Machado postaram-se na linha de frente dessa peleja inglória, talvez até para esconderem a recente derrota eleitoral que tiveram seus Partidos em seus Estados. Mestres na arte de
confundir o eleitorado ocultando a origem autoritária das propostas que defendem - todas elas recolhidas dos escombros da ditadura militar - esses senhores ensaiam agora "convidar" representantes do PT para um acordo sobre a contra-reforma. E marcam encontros e cafés-da-manhã para mostrar ao povo que eles, do PFL, nessa "questão candente", estão com o PT. Com se isto
fosse verdade.
As forças progressistas de nosso país defendem uma reforma-política verdadeira, que será democrática e modernizadora na medida em que sirva a
quatro objetivos fundamentais:
1) o aprofundamento da democracia e não sua restrição;
2) a garantia do vontade do eleitor e não a fraude;
3) a libertação das eleições do poder econômico, da mídia, dos institutos de pesquisa e da maquina estatal e não sua submissão a esses instrumentos de poder; e
4) a criatividade das soluções brasileiras e não o transplante mecânico de experiências alheias.
A existência de cerca de 170 projetos de lei específicos sobre essa matéria tramitando na Câmara dos Deputados é a base propositiva ampla que, devidamente examinada e discutida, em fórum adequado, poderá viabilizar uma verdadeira reforma política no Brasil,
democrática e modernizadora.
A Câmara já deliberou constituir uma Comissão Especial para tratar da reforma-política, decisão ainda não implementada, mas que é o ponto de partida para o andamento prático e correto da reforma pretendida. As proposições já aprovadas pelo Senado a respeito de "reforma política" iriam a essa Comissão Especial, como inclusive aconteceu em casos passados. Aliás, a iniciativa
do Senado, nessa questão, é de legitimidade duvidosa, vez que a Casa de "representantes dos Estados e do Distrito Federal" não tem porque tomar essa iniciativa, que sempre foi da Casa "de representantes do povo."
(Arts. 46 e 45 da Constituição).
Porta-vozes do PFL matreiramente procuram transmitir a lideranças do PT a idéia de que pelo menos em cinco pontos têm unidade: a fidelidade partidária, a cláusula de barreira, o financiamento público de campanha, o voto em lista partidária e a proibição de coligações proporcionais. Evidentemente que essa suposta "unidade" entre forças conservadoras, como algumas lideranças do PFL, e forças progressistas, como o PT, é absolutamente falsa e enganosa. O que certas lideranças do PFL e de outros partidos conservadores querem é, através de expedientes da chamada "reforma", alijar da vida política nacional uma gama de partidos que não lhes são submissos e, em decorrência, aumentar em muito o tempo gratuito de televisão a que teriam acesso, o montante do fundo partidário que receberiam e o financiamento público de
campanhas que só os grandes partidos teriam.
Em oportunidades passadas mostramos como o núcleo das propostas de "reforma-política" defendidas pelos setores mais estreitos da política nacional era exatamente o "entulho autoritário", extirpado no processo constituinte de 1987/88. A ameaça do retorno do "entulho" voltava-se,
especialmente, contra os partidos pequenos que, ao resistirem, sempre contaram com o apoio do PT. Todos achavam que a ameaça não era apenas à sobrevivência dos partidos menores, mas aos preceitos da representação democrática. Nunca admitimos que a legislação abrigasse partidos de aluguel, mas não aceitamos a idéia de que partido de aluguel é só partido pequeno, assim como não concordamos que, a pretexto de se coibir partidos de aluguel, incorporemos o arbítrio e
golpeemos a liberdade de organização partidária.
As forças democráticas devem, ao tratar da reforma-política, ter clareza da contra-reforma a combater, buscar o caminho da discussão e do entendimento com todos, formalizar tudo na Comissão Especial a ser urgentemente constituída, e sobretudo não devem perder de vista que a articulação prioritária é com os aliados de maior proximidade política e ideológica.
Barroco
Herança Barroca
Introdução
O Barroco na arte marcou um momento de crise espiritual da sociedade européia. O homem do século XVII era um homem dividido entre duas mentalidades, duas formas diferentes de ver o mundo. Por isso, o estilo Barroco é um dos mais complexos que podem ser estudados na literatura Brasileira. A historiografia e a crítica têm oscilado entre posições que vão da seca de recusa do Barroco, por alegada pobreza temática e exagerada manipulação da palavra, à quente apologia que fazem à escola dos anatomistas ao estilo, maravilhados com a engenhosidade e agudeza das produções da época. A posição mais conservadora, mais tradicionalista, tende a ver no Barroco uma "pérola irregular" *¹, um classicismo imperfeito e obtuso. A posição mais recente, que se abre com os estudos de Heinrich Wölfflin, tende a ver no Barroco uma constante universal na arte, expressiva dos períodos marcados por graves conflitos espirituais, e cuja essência é a irregularidade, a exasperação, o retorcimento, o exagero, caracteristicas opostas à sobriedade e à disciplina clássicas.
Convivendo com o sensualismo e os prazeres materiais trazidos pelo Renascimento, os valores espirituais - tão fortes na Idade Média e desprezados pelo Renascimento - voltaram a exercer forte influência sobre a mentalidade da época. Uma nova onda de religiosidade foi trazida pela Contra-Reforma e pela fundação da Compania de Jesus. O que decorreu daí foram naturalmente sentimentos contraditórios, já que o homem estava dividido entre valores opostos. E a arte barroca, que exprime essa contradição, igualmente oscila entre o clássico (e pagão) e o medieval (cristão), apresentando-se como uma arte indisciplinada.
Comparado aos outros dois movimentos que integram a Era Clássica, o Classicismo e o Arcadismo, o Barroco representa um desvio da orientação clássica, já que procurava, ao mesmo tempo, fundir a experiência renascentista ao reavivamento da fé cristã medieval. Punha em risco, assim, certos princípios muito prezados pela tradição clássica, como o predomínio da razão e o equilibrio.
Resumindo, o Barroco tenta conciliar duas concepções de mundo opostas: a medieval e a renascentista. Assim, valores como o humanismo, o gosto pelas coisas terrenas, as satisfações mundanas e carnais, trazidos pelo Renascimento, que era caracterizado pelo racionalismo, equilíbrio, clareza e linearidade dos contornos, fundem-se a valores espirituais trazidos pela Contra-Reforma, com idéias medievais, teocêntricas e subjetiva. Nasce então uma forma de viver conflituosa, expressa na arte barroca.
*¹ - A origem da palavra barroco tem suscitado muitas discussões. Dentre as várias posições, a mais aceita é a de que a palavra se teria originado [...] do vocábulo espanhol barrueco, vindo do português arcaico e usado pelos joalheiros desde o século XVI, para designar um tipo de pérola irregular e de formação defeituosa, aliás, até hoje conhecida por essa mesma denominação. Assim, como termo técnico, estabeleceria, desde seu início, uma comparação fundamental para a arte: em oposição à disciplina das obras do Renascimento, caracterizaria as produções de uma época na qual os trabalhos artísticos mais diversos se apresentariam de maneira livre e até mesmo sob formas anárquicas, de grande imperfeição e mal gosto. (Suzy Mello, Barroco. São Paulo, Brasiliense, 1983. p.7-8)
Contexto histórico
Num contexto de autoritarismo político (com o absolutismo, sistema político baseado na centralização absoluta do poder nas mãos do rei, que se considerava o Deus na terra), de expansão comercial (com a Revolução Comercial, cuja política econômica, o Mercantilismo, se baseava no metalismo, na balança comercial favorável e no acúmulo de capitais), de luta de classes (onde a burguesia, por deter forte poder econômico, pressionava politicamente a nobreza e o rei, a fim de participar das decisões políticas do Estado Absolutista. Isso era quase impossível na época, já que a sociedade estava organizada em três camadas sociais impermeáveis: o clero, a nobreza e o terceiro estado), e crises religiosas (reforma e contra-reforma) que nasceu a arte barroca.
Um dos traços mais importantes que caracterizam o Barroco é o gosto pela aproximação de realidades opostas, pelo conflito e pelas contradições violentas. Tal princípio pode ser relacionado com a realidade do homem barroco, contraditória e em transformação.
Politicamente, o homem da época sentia-se oprimido; economicamente, contudo, sentia-se livre para enriquecer. Apesar da possibilidade de ascensão econômica, a estrutura social do Antigo Regime não lhe permitia a ascensão social.
No plano espiritual, igualmente se verificaram contradições: ao lado das conquistas e dos valores do Renascimento e do mercantilismo - que possibilitou a aquisição de bens e prazeres materiais - a Contra-Reforma procurava restaurar a fé cristã medieval e estimular a vida e os valores espirituais.
Por esse conjunto de razões é que na linguagem barroca, tanto na forma quanto no conteúdo, se verifica uma rejeição constante da visão ordenada das coisas. Os temas são aqueles que refletem os estados de tensão da alma humana, tais como vida e morte, matéria e espírito, amor platônico e amor carnal, pecado e perdão. A construção da linguagem barroca acentua e amplia o sentido trágico desses temas, ao fazer o uso de uma linguagem de difícil acesso, rebuscada, cheia de inversões e de figuras de linguagem. Outros temas que são facilmente encontrados são o sobrenatural, castigos, misticismo e arrependimento.
A época da Contra-Reforma, e do Barroco é principalmente marcada por uma profunda dualidade. Por um lado, é o desdobramento do humanismo clássico e do Renascimento, com seus apelos ao racionalismo, ao prazer, ao "carpe diem" (em latim, "aproveite o dia"). Por outro lado, o homem é pressionado pela Igreja Católica e pelo protestantismo mais vigoroso a um regresso ao teocentrismo medieval, à postura estóica, à renúncia aos prazeres, à mortificação da carne e à observância plena do "amar a Deus sobre todas as coisas", princípio capitular do teocentrismo medieval. Em síntese, o homem do século XVII foi compelido a concilicar o TEOCENTRISMO MEDIEVAL e o ANTROPOCENTRISMO CLÁSSICO e valores opostos como fé x razão, alma x corpo, Deus x homem, céu x terra, virtude x prazer. Valemo-nos da apreciação do Prof. Afrânio Coutinho: "O homem do Barroco é um saudoso da religiosidade medieval e, ao mesmo tempo, um seduzido pelas solicitações terrenas e valores mundanos, amor, dinheiro, luxo, posição, que a Renascença e o Humanismo puseram em relevo. Desse dualismo nasceu a arte barroca". (Aspectos da literatura Barroca, RJ, 1950 - pág. 54)
Vê-se, pois, que a época barroca, o século XVII, foi das mais conturbadas que o homem ocidental viveu. E mais! Como já foi dito, a escola literária Barroco coincide com o apogeu do Absolutismo Monárquico, Mercantilismo, Metalismo, do Capitalismo e sua extensão a áreas coloniais, da Burguesia e da Revolução Comercial. É notório que, se a Literatura é a expressão do homem e de seu tempo (ver O que é Literatura), o estilo barroco haveria de refletir as angústias, as incertezas e o desespero do homem que viveu essa época difícil.
Fruto da síntese entre duas mentalidades, a medieval e a renascentista, o homem do século XVII era um ser contraditório, tal qual a arte pela qual se expressou.
Caracteristicas da linguagem barroca
Algumas caracteristicas da linguagem barroca merecem especial atenção pela sua peculiaridade e pelo uso que foi sendo feito de algumas delas em escolas posteriores.
Requinte formal: O nível linguístico dos textos barrocos é sofisticado. Os textos podem apresentar construções sintáticas elaboradas, vocabulários de nível elevado. O Barroco Literário foi uma arte da aristocracia e esse refinamento era desejado por seu público consumidor, porque lhe conferia status.
Conflito espiritual: O homem barroco sente-se dilacerado e angustiado diante da alteração dos valores, dividindo-se entre o mundo espiritual e o mundo material. As figuras que melhor expressam esse estado de alma são a antítese (emprego de palavras que se opoem quanto ao sentido: bem x mal; branco x preto; claro x escuro) e o paradoxo (a antitese levada ao extremo, onde as idéias se opoem em termos de sentido: 'sol que se trajava em criatura"; "anjo que em mulher se mentia"; "rio de neve em fogo convertido").
"Nasce o sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria."
"Alegre do dia entristecido,
O silêncio da noite perturbado,
O resplendor do sol todo eclipsado,
E o luzente da lua desmentido!
O espirito Barroco é cabalmente expresso no célebre dilema do 3° ato de Hamlet, de Shakespeare: "To be or not to be, that is the question". ("Ser ou não ser, eis a questão..."
Temas contraditórios: Há o gosto pela confrontação violenta de temas opostos, como amor / dor, vida / morte, juventude / velhice, pecado / perdão, dentre outros.
Efemeridade do tempo e carpe diem: O homem barroco tem consciência de que a vida terrena é efêmera, passageira, e por isso, é preciso pensar na salvação espiritual. Mas, já que a vida é passageira, sente, ao mesmo tempo, desejo de gozá-la antes que acabe, o que resulta num sentimento contraditório, já que gozar a vida implica pecar, e se há pecado, não há salvação.
"...Gozai, gozai da flor da formosura,
Antes que o frio da madura idade
Tronco deixe despido, o que é verdura..."
"Lembra-te Deus, que és pós para humilhar-te,
E como o teu baixel sempre fraqueja,
Nos mares da vaidade, onde peleja,
Te põe a vista a terra, onde salvar-te..."
Entendendo que a mocidade é o estágio mais elevado da vida, a idade madura vem a significar decadência. Para comunicar isso, os textos se servem de imagens plásticas, que são as que envolvem sensorialidade:
"...goza, goza da flor da mocidade
que o tempo trata a toda a ligeireza,
e imprime em toda flor sua pisada.
Ó não aguardes, que a madura idade,
te converta essa flor, essa beleza,
em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. "
Mocidade - Maturidade - Morte
Flor - terra - cinza - pó - sombra - nada.
Desta forma, o tempo atua sobre o ser humano conduzindo-o à decadência. E o poeta refere esse tragico fato também, de forma plástica, isto é, utilizando-se de uma enumeração gradativa decrescente. A enumeração gradativa é o uso de uma sequência de palavras cujo significado induz o leitor a imaginar um ser cada vez mais limitado, mais pobre, mais insignificante:
Flor, terra, cinza, pó, sombra, nada...
Essa imagem que vai de flor a nada põe ante os olhos do leitor, e sua imaginação, os conceitos:
Mocidade - Maturidade - Morte. Isto é, decadência e transitoriedade.
Paganismo: buscando um traço do Classicismo e da Cultura Greco-Romana, alguns textos barrocos os deuses da mitologia pagã aparecem para representar um sentimento ou um tema abstrato qualquer.
"Enquanto com gentil descortesia,
o ar, que fresco Adônis te namora,
te espalha a rica trança brilhadora,
quando vem passear-te pela fria:"
Gregório de Mattos
Adonis (ou Adonai) é um ente mitológico
que representa a grande beleza e a vaidade.
Cultismo ou Gongorismo - O jogo de palavras: Cultismos ou Gongorismo são as denominações que recebeu, na Península Ibérica, e em colônias ultramarinas, no aspecto do Barroco voltado para o rebuscamento da forma, para a ornamentação exagerada do estilo, por meio do vocabulário precioso, erudito, eivado de latinismos, para a inversão da ordem direta da frase, imitando a sintaxe do latim clássico. O termo Cultismo deriva da obsessão barroca pela linguagem culta, erudita, e o Gongorismo alude ao autor espanhol Luís de Gongora, expoente maior desse procedimento literário, criador de uma verdadeira escola que tem como seguidores, entre nós, Manuel Botelho de Oliveira e, em alguns momentos, Gregório de Mattos Guerra.
O aspecto exterior imediatamente visível no Cultismo ou Gongorismo é o abuso no emprego de figuras de linguagem, especialmente as semânticas (Metáforas, Antíteses, Hiperboles), as sintáticas (de inversão oracional, de repetição ou supressão de termos, como Hipérbatos, Anáforas, Anadiploses, Quiasmos e sonoras, Paronomásias, etc.).
- Percepção sensorial da realidade: O cultismo explora, também atravez do jogo de palavras, efeitos sensoriais, tais como cor, forma, volume, sonoridade, imagens violentas e fantasiosas - enfim, recursos que sugerem a superação dos limites da realidade.
A uns mártires pendoravam pelos cabelos, ou por um pé, ou por ambos, ou pelos dedos, polegares, e assim, no ar, despidos, batiam e martelavam com tal força e continuação, os cruéis e robustos algozes (carrascos), que ao princípio açoitavam os corpos, depois desfiavam as mesmas chagas (feridas), ou uma chaga até que não tinha já que açoitar nem ferir. A outros estirados e desconjuntados no ecúleo (instrumento de tortura), ou estendidos na catasta, (cadafasto, em forma de leito, feito em grades, em que se troturavam os mártires) aravam os membros com pentes e garfos de ferro, a que propriamente chamavam escorpiões, ou metidos debaixo de grandes petras de moinho, lhes espremiam como em cardar (pentear) o sangue, e lhe moíam e imprensavam os ossos, até ficarem com uma pasta confusa, sem figura, nem semelhança do que dantes eram. A outros cobriam todos de pez (breu, piche), resina e enxofre, e ateando0lhes o fogo, os faziam arder em pé como tochas ou luminárias, nas festas dos ídolos, esforçando-os para este suplício como lhes dar a beber chumbo derretido.
Neste fragmento, podemos perceber claramente a tentativa de Pe. Vieira de fazer o leitor sentir o que ele descreve, como uma forma de persuadir seus ouvintes a não se envolverem com idéias de reforma religiosa (o Protestantismo). Para isso, toma como exemplo a persistência religiosa dos mártires da Igreja Católica e descreve com extrema figuração e utilização de símbolos fortes como eram torturados esses mártires.
- Metáfora: (Do grego meta: 'mudança', 'alteração' + phora 'transporte'). É a figura de palavra em que se emprega um termo por outro, mantendo-se entre eles uma relação de semelhança; é uma espécie de "comparação abreviada", como em "Seus olhos são esmeraldas", isto é, "seus olhos são verdes".
É a vaidade, Fábio, nesta vida (01)
Rosa, que de manhã lisonjeada, (02)
Púrpuras mil, com ambição dourada, (03)
Airosa rompe, arrasta presumida. (04)
É planta, que de abril favorecida, (05)
Por mares de soberba desatada, (06)
Florida galeota empavesada, (07)
Sulca ufana, navega destemida. (08)
É nau enfim, que em breve ligeireza, (09)
Com presunção de Fênix generosa, (10)
Galhardias apresta, alentos preza: (11)
Mas ser planta, ser rosa, ser nau vistosa (12)
De que importa, se aguarda sem defesa (13)
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa? (14)
Gregório de Matos Guerra
O próprio título do soneto, Dos Desenganos da Vida Humana, Metaforicamente, alude ao emprego intensivo da metáfora. O poema se entretece a partir de três metáforas da vaidade: rosa, planta, nau (navio), que têm duração efêmera, ainda que se suponham eternas.
Primeiramente são mostradas as qualidades de cada um desses elementos metafóricos. Como a rosa, a vaidade "rompe airosa" (elegante); como a planta favorecida pelo mês de abril (quando é primavera na Europa), ela segue rapidamente, feito uma "galeota empavesada" (embarcação enfeitada); como uma nau ligeira, preza alentos e galhardias (elogios e elegâncias).
Observe que as metáforas são colocadas nos versos 2, 5 e 9 e, após retomadas nos versos 12 a 14, quando, no último terceto, o poeta as dispõe em ordem decrescente, inversa: a penha (pedra) destrói a nau, assim como o ferro (instrumento de corte qualquer) destrói a planta e a tarde (o tempo que passa) destrói a rosa. A conclusão a que se chega, portanto, é que a vaidade é frágil e efêmera.
A metaforização intensiva do texto Barroco estabelece, quase sempre, uma identificação sensorial resultando no aspecto cromático e criando associações surpreendentes. Assim, o poeta barroco diz: "os marfins da boca" - ao invés de "dentes", "o zéfiro manual" (eu também não sabia o que era isso.. - vento suave:)) - ao invés de "leque", "a língua dos olhos" - ao invés de "lágrima", "rubi" - ao invés de sangue.
- Antítese (do grego anti, 'contra' + thesis, 'afirmação'): Figura de pensamento que consiste no emprego de palavras numa oração ou período que se opõem quanto ao sentido. Exemplificando...
"Infalível será em ser homicida
O bem, que sem ser mal motiva o dano
O mal, que sem ser bem apressa a morte."
- Hipérbato (do grego hipérbaton, 'inversão, 'transposição'): É a figura sintática / de construção que consiste numa inversão violenta da ordem direta da frase. Citam-se, como exemplo notório, os versos iniciais do Hino Nacional:
"Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heróico o brado retumbante"
("As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico").
O hipérbato resulta em certa dificuldade de leitura, como se verifica nos 4 primeiros versos do poema de Gregório de Matos, acima. Reescrevendo-os, em ordem direta, teríamos:
"Fábio, a vaidade nesta vida é rosa que, lisonjeada de manhã, arrasta presumida mil púrpuras e rompe airosa com ambição doirada".
- Hipérbole (do grego hyperbolè, 'lançar sobre'): Também conhecida como intensificação, é a figura de pensamento que consiste na ênfase resultante do exagero deliberado, quer no sentido negativo, quer no positivo. É uma forma de exagerar a verdade, mas com respeito à beleza, seja por amplificação, seja por atenuação. É o que ocorre em expressões cotidianas como "morreu de rir", "morto de fome", "já te disse quatrocentas bilhões de vezes....", ou em construções literárias como:
"Rios te correrão dos olhos se chorares.."
- Perífrase: Também denominada circunlóquio, é a figura de pensamento que consiste na substituição de uma palavra por uma série de outras, de modo que estas se refiram àquela, indiretamente. Utilizada, em geral, para evitar a monotonia das expressões gastas ou para criar novas relações metafóricas. É o que ocorre em: "Graças à onipotência de quem devemos a criação do Universo", que significaria simplesmente "Graças a Deus".
- Anáfora (do grego ana, 'repetição' + phorá, 'que conduz', 'que leva'): Figura de construção que consiste na repetição intensional de uma ou mais palavras no início de vários versos.
"A vós, pregados pés, por nõa deixar-me.
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me."
Gregório de Matos Guerra
A anáfora também pode ocorrer na prosa, quando iniciamos as orações ou peródoso por uma mesma palavra ou locução. Observando...
"Quando fazem os ministros, o que fazem? Quando respondem? Quando deferem? Quando despacham?
Quando ouvem?"
Pe. Antônio Vieira
- Anadiplose: Figura de construção que consiste na reiteração do(s) termo(s) final(ais) de um verso ou oração, no início do verso subsequente:
"Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
É verdade, senhor, que te hei delinquido,
Delinquido vos tenho, e ofendido
Ofendido vos tem minha maldade".
Gregório de Matos Guerra
- Paronomásia: Figura de construção que consiste no emprego de vocábulos semelhantes na grafia ou na pronúncia, mas opostos ou aparentados nos sentidos. Exemplificando...
"Ah, pregadores! Os de cá achar-vos-eis com
mais paço; os de lá com mais passos."
Sermão da Sexagésima - Pe. Antônio Vieira
- Prosopopéia: Figura de pensamento que consiste em atribuir atitudes animadas ou humanas a seres inanimados ou irracionais. Exemplificando...
"Agora que se cala o surdo vento
E o rio enternecido com meu pranto
Detém seu vagaroso movimento"
Gregório de Matos Guerra
- Elipse (do grego élleipsis, 'omissão'): Figura de construção que consiste na omissão de um termo da oração facilmente identificável, quer por elementos da própria oração, quer pelo contexto. É muito usual em diálogos da vida cotidiana. Por exemplo, na bilheteria de um teatro, apenas perguntamos " - Quanto custa?". O contexto, a situação em que foi feita a pergunta leva-nos ao termo omitido - "a entrada".
- Zeugma (do grego zeûgma, 'junção'): É um caso específico de elipse. Trata-se da omissão de um termo já mencionado anteriormente.
A vós, correndo vou, braços abertos (01)
(...)
A vós, pregados pés, por nõa deixar-me. (09)
A vós, sangue vertido, para ungir-me, (10)
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me." (11)
A vós, lado patente, quero unir-me, (12)
A vós, cravos preciosos, quero atar-me, (13)
Para ficar unido, atado e firme. (14)
Gregório de Mattos Guerra
Os versos 5, 9, 10, 11, 12, 13 constroem-se com a omissão do verbo, já referido no 1° verso - "correndo vou".
Em todos eles aparece zeugma. Assim, nos versos mencionados, devemos ler:
"A vós, (correndo vou), pregados pés (...)" / "A vós, (correndo vou) sangue vertido (...)"
- Gradação: Figura de pensamento que consiste em dispor as idéias em ordem crescente ou decrescente. Quando o encadeamento se faz em ordem crescente, temos o clímax; quando em ordem decrescente, o anticlímax.
"Oh, não aguardes, que a madura idade
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada."
Gregório de Mattos Guerra
As figuras apresentadas são apenas algumas das que os autores cultistas empregaram. Caberia ressaltar, ainda, a preocupação com a originalidade e a renovação da Língua, pela incorporação de neologismos; e mais, a recorrência a citações eruditas, ao emprego de latinismos e à persistência de alegorias fundadas na mitologia clássica.
Conceptismo - A dialética barroca: Define-se o Conceptismo do Barroco voltado para o jogo das idéias, para a argumentação sutil (sutileza explicada pela necessidade de camuflar as ainda críticas contra a Igreja, já que a Santa Inquisição estava no seu auge, investigando, levando a julgamento e condenando aqueles que não contribuiam para a preservação, defesa e propagação da Contra-Reforma e consequentemente das doutrinas católicas), para a dialética cerrada, que opera por meio de associações inesperadas, ainda fundadas na metáfora e, especialmente nos procedimentos da lógica formal, como o silogismo, o sofisma e o paradoxo.
Enquanto os Cultistas ou Gongóricos consideravam que a percepção cognoscitiva (= que se pode conhecer) das coisas deveria processar-se pela captação de seus aspectos sensoriais e plásticos (contorno, forma, cor, volume), produzindo como resultado um verdadeiro frenesi cromático, visando aprender o como, os Conceptistas pesquisavam a essência íntima dos objetos, buscando saber o que são, visando à apreensão da face oculta, apenas acessível ao pensamento, ou seja, aos conceitos; assim, a inteligência, a lógica e o raciocínio ocupam o lugar dos sentidos, impondo a concisão e a ordem, onde reinavam a exuberância e o exagero.
Assim, é usual a presença de elementos da lógica formal, dentre outras figuras como:
- Silogismo: Dedução formal que, postas duas proposições, uma, verdade universal, outra, particularização dessa verdade, chamadas premissas, delas se tira uma terceira, logicamente implicada, chamada conclusão. Assim, temos como exemplo:
Premissa maior (verdade universal): Todo homem é mortal.
Premissa menor (particularizando...): Eu sou homem.
Conclusão lógica: (Logo,) Eu sou mortal.
Observemos a construção do terceto final de um soneto sacro de Gregório de Matos que, referindo-se ao amor de Cristo, diz:
"Mui grande é o vosso amor e o meu delito; (09)
Porém pode ter fim todo o pecar, (10)
E não o vosso amor, que é infinito. (11)
Essa razão me obriga a confiar (12)
Que, por mais que pequei, nesse conflito, (13)
Espero em vosso amor de me salvar." (14)
Gregório de Matos Guerra
Esses versos encobrem a formulação silogística, como segue:
Premissa maior (verdade universal): O amor de Cristo é infinito. (verso 11).
Premissa menor (particularizando...): Meu pecado é finito, apesar de grande (9 e 10).
Conclusão lógica: (Logo,) Por maior que seja o meu pecado, eu espero salvar-me (13 e 14).
Observemos ainda o silogismo que é feito no texto abaixo. O primeiro quarteto aparece como uma verdade universal - premissa maior - , o segundo como a particularização dessa verdade - premissa menor. Finalizando, vêm os dois tercetos concluindo o pensamento:
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte, Premissa maior
Mas se a parte faz o todo, sendo parte, - Verdade universal
Não se diga, que é parte, sendo todo.
Em todo Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte, Premissa menor
E feito em partes todos em toda parte, - Particularização
Em qualquer parte sempre fica o todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo, Argumentação
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte desse todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte, Conclusão
Nos disse as partes toda deste todo.
Gregório de Matos Guerra
- Sofisma: É o argumento que parte de premissas verdadeiras e que chega a uma conclusão inadmissível, que não pode enganar ninguém, mas que se apresenta como resultante de regras formais do raciocínio, não podendo ser refutado. É um raciocínio falso, elaborado com a função de enganar. Vejamos um sofisma bem simples e claro:
Premissa maior (verdade universal): Filho de peixe peixinho é. Deus é imortal
Premissa menor (particularizando...): Eu fou filho de Deus.
Conclusão ilógica: Logo, eu sou imortal.
Evidentemente que esse raciocínio não pode ser encarado dessa forma. No entanto, não existem argumentos contra ele...
Gregório de Matos é um mestre também no Sofisma, montando argumentos que são lógicos à primeira vista, com o objetivo citado: enganar. E na maioria das vezes, ele tenta enganar a Deus, por ser um pecador, não poder deixar de pecar e mesmo assism almejar a salvação. (Base de todos os conflitos barrocos!). Assim, analisando o poema anterior, percebemos um sofisma nesse sentido...
Premissa maior (verdade universal): O amor de Cristo é infinito
Premissa menor (particularizando...): O meu pecar é finito
Conclusão ilógica: Logo, o amor de Cristo é maior que o meu delito (e eu seirei salvo).
Ora, simplesmente o fato do amor de Cristo ser maior que delito não redime o pecador de seus atos. Portanto, a conclusão a que chegamos no poema é falsa.
- Metonímia: Figura que, assim como a metáfora, consiste no uso de uma palavra por outra, em virtude de certa familiaridade que elas têm entre si. Essa familiaridade pode ocorrer empregando-se o concreto pelo abstrato ("papo-cabeça" - "intelectual"), a causa pela consequência (acabarão com o "verde" do pais? - "as matas"), divindade pela sua 'função' ("Cupido" ataca novamente - "o amor").
O soneto abaixo é construido a partir de um sistema de metonímias que vão relacionando as partes de Cristo ("braços", "olhos", "sangue", "lágrimas","cabeça", "cravos"...), substituindo todo o Cristo crucificado:
A vós, correndo vou, braços abertos
Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me estais abertos,
E, por não castigar-me estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados,
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me estais fechados.
"A vós, pregados pés, por nõa deixar-me.
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me."
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
Gregório de Mattos Guerra
Alguns autores entendem que, quando a relação entre os elementos é qualitativa, temos outro tipo de figura, chamada sinédoque. Essa relação geralmente se dá no Barroco, o todo pela parte:
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte faz o todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.
- Paradoxo: Figura de linguagem, é uma espécie de antítese, porém bem mais radical. Enquanto a antítese é uma mera aproximação de elementos opostos, o paradoxo funde-os, quebrando a lógica. Enquanto a antítese é caracterizada por mostrar palavras de sentidos opostos, o paradoxo poderia ser definido como o emprego de idéias numa oração ou período que se opõem pelo sentido. Exemplo...
"Começa o mundo enfim pela ignorância
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância."
"Nos palácios reais se encurtam anos
Porém tu sincopando os aposentos
Mais te deleitas, quando mais te estreitas."
Gregório de Matos Guerra
- Ironia: Ocorre-se quando se diz alguma coisa, querendo-se dizer exatamente o contrário. Por exemplo, o namorado se atrasa para o encontro e sua respectiva o diz: "Já chegou?! Tão cedo..."
Gregório de Matos utiliza MUITO a ironia, principalmente na sua poesia satírica, que não é incluída no estilo Barroco, por fugir em muito do tema-base da escola, o conflito espiritual, a contradição, a dualidade. (Ver Gregório de Matos - Satiricas)
Observação importante:
Cultismo e Conceptismo são dois aspectos do Barroco que não se separam; antes, superpõem-se como as duas faces de uma mesma moeda. Às vezes, o autor trabalha mais ao nível da palavra, da imagem; busca mais o argumento, o conceito. Nada impede que o mesmo texto tenha, simultaneamente, aspectos Cultistas e Conceptistas. Com os riscos inerentes às generalizações abusivas, diz-se, didaticamente, que o Cultismo é predominante na poesia e o Conceptismo, predominante na prosa. Mas como foi visto, muitos poemas de Gregório de Matos possuem o conceptismo muito marcante e até mesmo como aspecto principal.
Herança Barroca
Na Literatura pouco é efetivamente criado, cada estilo segue um padrão que já foi seguido repetidas vezes. Isso poderia ser exemplificado da seguinte forma: o Trovadorismo é o estilo medieval, cultivando valores teocêntricos, o Humanismo é a fase de transição e o Classicismo representa a quebra total com os valores medievais (Renascimento e Reforma). O Barroco surge num contexto de retomada dos valores medievais (Contra-Reforma), o Arcadismo faz a retomada dos valores Clássico-Renascentistas (Iluminismo) e assim por diante.
Notamos que os estilos vão se alternando entre racionalismo e irracionalismo, entre fé e materialismo, entre subjetividade e objetivismo, etc. O Barroco vem justamente para tentar uma fusão de todos esses valores, e por isso é um dos mais complexos estilos que podem ser estudados na Literatura Brasileira, já que leva à representação de um homem cheio de conflitos e instabilidades.
Na proporção de sua complexidade, está a sua importância. O estilo influenciou e vem influenciando autores de quase todas as épocas literárias que o sucederam, principalmente os autores do pós-movimento modernista. Vejamos alguns exemplos de textos que carregam a herança barroca:
Sentimento de que o mundo é instável e inseguro: O tempo é visto como destruidor, arrasador. A passagem do tempo traz a velhice e a morte. O homem, que nada pode fazer contra o tempo, se entrega à angústia, à dor. A vida passa depressa como um dia:
Dia,
espelho de projeto não vivido
e contudo viver era tão flamas
na promessa dos deuses; e é tão ríspido
em meio aos oratórios já vazios
em que a alma barroca tenta confrontar-se
Mas só vislumbra o frio noutro frio.
Carlos Drummond de Andrade
O sentimento de que a realidade humana é absurda, sem solução, repleta de contrastes:
O amor não nos explica. E nada basta,
nada é de natureza assim tão casta.
que não macule ou perca a sua essência
ao contato furioso da existência
Nem existir é mais que um exercício
de pesquisar da vida um vago indício
a provar a nós mesmos que, vivendo,
estamos para doer, estamos doendo.
Carlos Drummond de Andrade
A expressão do grotesco, do chocante, do monstruoso: É o "feísmo", ou o "belo horrível" barroco.
O monumento não tem porta
a entrada é uma rua antiga estreita e torta
e no joelho uma criança sorridente
feia e morta estende a mão
Caetano Veloso - Tropicália
Não é mágoa descrente de outras luzes
tampouco a destra férrea do cansaço.
Apenas não te enlevas, não te iludes
És o rio de súbito estagnado
Deformas-te. Descerra o cílio cardo
sobre o teu sono o pânico em que ruges.
Olho tens, não farol, pois cego e falho
nem roteiro qualquer já repercutes.
Do Letes aprofundas-te no amnésico,
em vão desfolhas teu colar feérico
de esquivas contas, ninfas de outro fasto
Contra o mural verticaliza o corvo
o prenúncio do limbo onde estás morto
sob os grilhões de um deus forjado em asco.
Affonso Ávila
A angústia religiosa, ligada à mistura entre o sagrado e o profano:
Meu Deus, meus Deus,
por que me abandonaste?
se sabias que eu era fraco
se sabias que eu não era Deus?
Carlos Drummond de Andrade
A expressão do conflito, manifestado através da anteposição de imagens e sentimentos antagônicos:
Anjo de duas faces
Anjo de duas faces,
o sol e as trevas, eis.
E vós, Indecisão,
serpente me venceis Bigênito demônio
solevando punhal,
deuses escarnecendo,
sois o Bem, sois o Mal?
Sorriso de mulher
em pose de ivectiva,
o choro da criança
Não morta, semiviva Anjo de duas faces,
duplo lago reflete
- o olhar de uma condena,
o olhar de outra promete.
Affonso Ávila
O rebuscamento, sutileza e complexidade das idéias:
os remédios do amor e o amor sem remédio são as
quatro coisas e uma só
o primeiro remédio é o tempo
tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta,
tudo digere, tudo acaba
atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto
mais a corações de cera?
são as afeições como as vidas, que não há mais certo
sinal de haverem de durar pouco, que terem
durado muito.
Affonso Ávila
É fácil notar que muitos dos exemplos da herança foram versos de C.D. de Andrade. De fato, este grande poeta contemporâneo tem a "alma barroca", isto é, sua sensibilidade combina com a do estilo barroco, e isso se manifesta em inúmeros poemas seus.
A poesia de Affonso Ávila, embora esteja ligada a tendências predominantemente concretistas (seus poemas buscam, em geral, uma interligação entre os aspectos temático, rítmico e visual), também carrega essa herança barroca. Tal herança parece ser incorporada e trabalhada de forma consciente pelo poeta, que denominou um de seus livros de Barrocolagens. Nesta obra, o autor realiza, de fato, colagens de textos de Vieira, Gregório de Matos e Gôngora, entre outros, misturados a versos de sua autoria, nos quais reproduz o estilo discursivo e a temática barroca.
Apesar de possuírem características barrocas, não se pode dizer que os textos de Drummond e Ávila são barrocos, pois eles se compõem, em sua predominância, de traços que caracterizam a literatura do nosso tempo. A técnica da colagem de Affonso Ávila, por exemplo, é tendência da arte moderna. Os poemas de Drummond, por sua vez, apresentam uma visão moderna do universo, ainda que os sentimentos do poeta se manifestem, muitas vezes, através de formas barrocas de expressão.
O que ocorre é que temas como o conflito, a morte, o grotesco, o absurdo da vida são eternos, sempre preocuparam e sempre preocuparão o ser humano. Por razões histórico-sociais, esses temas preocuparam especialmente o homem barroco. Pode ser que uma situação histórica semelhante volte a ocorrer em nosso século e, assim, um novo barroco literário torne a se manifestar.
Obra
PROSOPOPÉIA (1601)
Autor
Bento Teixeira (1561-1600)
CONTEXTO HISTÓRICO
O Barroco ou Seiscentismo denomina todas as manifestações artísticas do século XVII e início do XVIII e, na literatura, é reflexo nítido de uma época profundamente angustiada. Nesse período, a Reforma de Lutero e Calvino dividiu os cristãos Europeus e, na tentativa de evitar a perda de fiéis, a Igreja Católica criou instituições florescentes na Península Ibérica, como o movimento da Contra-Reforma, que fundou a Companhia de Jesus e fortalece a Inquisição. Assim, enquanto a Europa evoluiu cientificamente, Portugal e Espanha permaneceram defensores da cultura medieval.
Além disso, de 1580 a 1640, Portugal, sob o jugo espanhol, enfrentou uma situação insuportável, o que propiciou um ambiente de pessimismo e desânimo, sobretudo, para a burguesia, que teve seu poder restringido pela submissão aos espanhóis e ao poder da Igreja - Contra-Reforma. A estética Barroca em Portugal resultou desse domínio, sofrendo, por conseqüência, grande influência espanhola, principal foco irradiador dessa estética.
Depois do domínio Espanhol, nos séculos XVII e XVIII, a nação portuguesa decaiu no cenário Europeu e sua literatura girou em torno de outras culturas: do barroquismo espanhol, do arcadismo italiano e do iluminismo francês, afetando a iniciante literatura colonial brasileira que passou a receber tendências estrangeiras.
A partir da segunda metade do século XVI, os ciclos de ocupação e exploração intensa e regular das possibilidades econômicas do Brasil-Colônia fizeram surgir núcleos urbanos de grande importância cultural e econômica na Bahia e Pernambuco. Mais tarde, século XVII, com a mudança da sede do governo para o Rio de Janeiro, esta firmou-se também como centro social, político e cultural.
As invasões estrangeiras, do Rio de Janeiro ao Maranhão, nos séculos XVI e XVII, foram responsáveis não só pelas transformações ocorridas no Nordeste mas também pelo despertar de uma consciência colonial, que se manifestou na literatura aqui realizada, através do sentimento de amor e interesse pelas nossas coisas, fatos e realidades. Ainda nesse século, essa região presenciou o auge e a decadência da cana-de-açúcar. No século XVIII, outros centros surgiram. Além de São Paulo, Vila Rica de Ouro Preto, em Minas Gerais, também desenvolveu-se econômica e culturalmente, devido ao descobrimento das jazidas de ouro. Durante esses séculos, o Brasil viveu sob forte pressão econômica, sobretudo pela intensa exploração de suas riquezas naturais que mantiveram a Corte.
Famílias brasileiras e portuguesas aqui radicadas, favorecidas por esse desenvolvimento, passaram a enviar seus filhos para os cursos superiores em Portugal. Esses estudantes, formados pela Universidade de Coimbra, foram os principais responsáveis pelas manifestações literárias européias que aqui surgiram. Ao retornarem contribuíram para o nosso desenvolvimento literário e reforçaram a mentalidade portuguesa entre nós.
CARACTERÍSTICAS
Sem encontrar explicações racionais para o mundo e com o fortalecimento da igreja católica, o século XVII retomou a religiosidade do período medieval e o antropocentrismo do século XVI, levando o pensamento humano a oscilar entre dois pólos opostos: Deus e o homem; espírito e matéria; céu e terra. Ao aproximar e relacionar idéias e sentimentos ou sensações contraditórias entre si, o Barroco reflete esse desequilíbrio e tensão.
Essa estética recebe nomes diferentes em outros países. Na Espanha, é Gongorismo, proveniente do poeta Luís Gôngora y Argote. Na Itália, chama-se Marinismo, devido à influência de Gianbattista Marini. Na Inglaterra, o romance Euphues ou The Anatomy of Wit, de John Lyly, dá origem ao Eufuísmo. Na França, denomina-se Preciosismo, graças à forma rebuscada na corte de Luís XIV. Na Alemanha, é conhecido por Silesianismo, caracterizando os escritores da região da Silésia.
Nessa estética, integrante do Período Colonial e sucessora do , há um culto exagerado da forma. Na poesia, isso é feito através de malabarismos sintáticos e abuso de figuras, tais como metáforas, antíteses, paradoxos, metonímias, hipérboles, alegorias e simbolismos, resultando em um rebuscamento exagerado, a que os poetas do iriam se opor.
O barroco literário marca-se por dois estilos: o Cultismo e o Conceitismo. Enquanto, no Cultismo, os termos contrários manifestam sensações, no Conceitismo, eles são construídos e resolvidos através do confronto de idéias e de conceitos mais abstratos.
Para o artista barroco, efêmero e contingente, que deseja conciliar céu e terra, a duplicidade é a única atitude compatível, daí o uso de temas opostos: amor e dor, o erótico e o místico, o refinado e o grosseiro, o belo e o feio que se misturam, ressaltando o bizarro, e lembrando que a morte é o denominador comum de todas as aspirações humanas.
Além das características portuguesas, o barroquismo brasileiro apresenta peculiaridades próprias. A visão nativista na poesia, por exemplo, pode ser considerada pitoresca pelo tipo de louvor que faz ao país. Na lírica amorosa, a mulher é retratada pela sua beleza e perigo, sendo ao mesmo tempo enaltecida e exorcizada.
As manifestações literárias barrocas do Brasil-Colônia, de 1601 a 1768, têm como marco inicial a publicação do poema épico Prosopopéia, de . Na poesia, destaca-se também e, na prosa, sobressai-se a oratória sagrada dos jesuítas, cujo nome central é o do .
Características
Conflito religioso e filosófico
Teocentrismo X Antropocentrismo
Pessimismo = Expressa sofrimento e tristeza
Conflito de idéias = choque de concepções
Bem X Mal, Céu X Inferno, Alma X Corpo , Salvação X pecado, espirito X matéria, purga X sensualidade
Preocupação com o transitório, com a efêmero
Rebuscamento da linguagem = Elitização
Uso exagerado de figuras de linguagem
Hipérboles (exagero), Metáfora (comparação), Antítese (oposição de idéias), Paradoxo (choque de idéias opostas)
Tentativa de conciliação entre o racional e o religioso
Cultismo = jogo de idéias
Conceptismo = jogo de palavras
Outras denominações do Barroco na Europa
Quevedismo > Espanha, devido a influência do poeta Quevedo estilo conceptista.
Gongorismo > Espanha, devido a influência do poeta Luiz de Gangorra. Estilo cultista.
Marinismo > Itália, pela influência do poeta Geansanptista Marini.
Silesianismo > Alemanha, por reunir poetas da região da silésia. Mais tarde fundou-se a escola siléana.
Eufoísmo > Inglaterra, devido a publicação da novela "Esphues or the anatony q wint" do escritor jhon Lyly.
Preciosismo > França, devido a arte afetada é cheia de rebuscamento da corte do Rei Luiz XIV, o rei sol.
Autores e Obras
Na poesia
Bento Teixeira - "prosopopéia" (1601) Marco inicial
Frei Itaparica
Botelho de Oliveira
Gregorio de Matos - considerado o primeiro poeta Brasileiro
Produção poética:
Poesia lírica – religiosa
Poesia lírica – amorosa
Poesia satírica
Obs.: Devido a sua poesia satírico recebeu o cognome de "boca do Inferno".
Na prosa
Sebastião da Rocha pita
Nuno Marques Pereira
Pe. Antônio Vieira - Em Portugal defendia idéias sebastianista, No Brasil defendia a causa indígena.
Produção literária:
Profecias, cartas, sermões - "Sermão da sexagenária"
"Sermão de Santo Antonio" , por exemplo.