A cibernética constitui-se como uma área interdisciplinar a partir da fisiologia (neurofisiologia), da engenharia, da lógica matemática, da tecnologia (electrónica), da linguagem, da psicologia e da teoria da informação. O seu desenvolvimento deu-se a partir de uma analogia entre o funcionamento dos seres-humanos, das máquinas e dos sistemas de autocontrolo.
O objectivo da cibernética é o desenvolvimento de máquinas e sistemas de informação e autocontrolo capazes de realizar operações com mais rapidez e precisão que o próprio homem. Aplica-se ao comportamento de aparelhos automatizados possuidores de mecanismos de auto-regulação, que realizam as tarefas com maior eficácia, em relação às realizadas pelo homem tradicionalmente, com maior lentidão e menos perfeição; vemos portanto, que a cibernética permitiu a construção de sistemas artificiais que são capazes de realizar tarefas de forma optimizada.
Da união entre a informática e a cibernética, surge a robótica que é uma tecnologia que tem vindo a desenvolver diversas máquinas controladas por computador, capazes de realizar não só as pequenas tarefas, mas também problemas bastante difíceis. Deu-se portanto, a abertura de uma nova área a que chamamos inteligência artificial (IA). Genericamente chamamos IA à actividade de automatização de actividades por via de modelização do computador.
“Existem dois pontos de partida para definir a I.A. - sonho e tecnologia”
Terry Winograd
A IA traduz a ideia de uma inteligência sem cérebro, ou então de um cérebro electrónico. É uma ciência que permite simular em computador o modo de tratar informação e resolver problemas. Tem, pois, como objectivo fundamental, compreender o modo de funcionamento humano para o reproduzir artificialmente, ou seja, construir um mecanismo capaz de realizar as funções superiores da mente humana.
Ultimamente têm-se vindo a observar grandes avanços no ramo da inteligência artificial, o que levou alguns autores a levantar a questão de saber se algum dia as máquinas poderão pensar.
As máquinas pensam e são inteligentes?
Corno todos nós somos passíveis deste tipo de preconceito, Turing imaginou um artificio: o jogo da imitação:
Neste jogo, participam três jogadores: dois homens e uma Máquina. Um dos homens tem como função descobrir quem é a máquina e quem é o homem, fazendo determinadas perguntas. As perguntas e respostas são enviadas por um mensageiro, para se evitar um contacto entre os jogadores.
Se, neste jogo, o terceiro jogador não souber diferenciar quem é o homem e quem e a máquina, então poderemos dizer que a máquina pensa.
O diálogo a seguir mostra um exemplo de um conjunto de perguntas e respostas entre um homem e uma máquina hipotética que, se tivesse acontecido num jogo de imitação, poderia ser perfeitamente confundido com um diálogo entre dois humanos.1
Homem (referindo-se a uma poesia de Shakespeare apresentada pela máquina): No primeiro verso do soneto, que diz “Devo eu te comparar a um dia de Verão”; “Um dia de Primavera não estaria igualmente bem ou ainda melhor?”
Máquina: Não tem o número certo de silabas.
Homem : Que tal “um dia de Inverno”?2 Tem o número correcto de sílabas.
Máquina: Mas ninguém quer ser comparado a um dia de Inverno.
Homem: O soneto fala sobre o Sr. Pickwick, não?
Máquina: Sim.
Homem: Você diria que o Sr. Pickwick faz lembrar o Natal?
Máquina: De certo modo.
Homem: Contudo, o Natal na Inglaterra é um dia de inverno e não creio que o Sr. Pickwick fizesse objecção a essa comparação.
Máquina: Não creio que você esteja a falar a sério. Quando se diz “um dia de Inverno”, quer-se dizer um dia típico de Inverno e não um dia especial como o Natal.
Turing desenvolveu este teste para não esbarrar com problemas de ordem metafísica, como a possibilidade de uma máquina ter consciência de si mesma, ou seja, chegar um dia a dizer: “Penso, logo existo”, como um robô-Descartes.
Turing em outras palavras, admite que o que nos interessa é um resultado “inteligente”, uma resposta adequada ao problema proposto, não importando se a máquina tem ou não consciência, ou emoções.
John Searle afirma, de maneira simples, que a mente tem mais que uma sintaxe, contém também uma semântica. A razão porque nenhum programa de computador pode alguma vez pensar (ser uma mente), é porque o programa de computador é apenas sintáctico. As mentes são semânticas, no sentido de que possuem mais do que uma estrutura formal, têm um conteúdo.
Temos também de compreender que, por exemplo, se nenhum humano compreender chinês, então nenhum outro computador o poderá fazer, porque nenhum computador, em virtude da execução de um programa, tem algo que nós não tenhamos. Tudo o que o programa de computador tem é, como nós também temos, um programa meramente formal para interpretar os símbolos chineses. Vemos então que, interpretar uma língua, é mais do que a simples posse de feixes de símbolos formais. Implica ter uma compreensão ou um significado associado a cada um desse símbolos. Os computadores só têm capacidades puramente formais, isto é não têm qualquer conteúdo semântico para interpretar e sentir o que os símbolos significam.
O desenvolvimento dos computadores foi bastante notável, e continua a sê-lo, e podemos sensatamente esperar que no futuro esses progressos sejam ainda mais notáveis. Podemos esperar também que os computadores consigam imitar cada vez com mais perfeição a mente humana, porém, está claro, nunca se poderão igualar a ela.
Informática: libertação ou escravização do homem?
Parece-me importante salientar em primeiro lugar que, as máquinas nunca poderão controlar o homem. Tiramos esta conclusão a partir das linhas acima, em que vemos que os computadores não possuem capacidade de semântica, e é por esta razão que nunca conseguirão ser superiores ao próprio homem.
No filme Matrix, vemos que os homens são escravizados pelas máquinas, funcionando apenas como energia biológica para as alimentar. Os homens não se apercebem disto porque as máquinas criaram um sistema de realidade virtual, o matrix, que induz os humanos na ilusão de terem uma vida própria. Julgo estar claro que isto nunca poderá acontecer, isto é as máquinas nunca irão controlar os homens. Elas não pensam, elas não se desenvolvem, e não aprendem com os humanos. Estão portanto, totalmente dependentes de nós.
Em resposta á questão acima colocada, na minha opinião a informática está a tornar-se numa libertação do homem, uma vez que consegue realizar trabalhos de maneira fácil e rápida e que para o homem seriam dificílimos de realizar.
O computador pode realmente, tornar inimigo do homem, mas não da humanidade. O que eu quero dizer com isto é que o computador pode ser utilizado numa guerra contra um certo número de pessoas, mas temos de ver que, para que isto aconteça, o computador terá de ser comandado por outros homens, que irão definir tarefas para o computador realizar.
Qual a importância do computador para a sociedade actual?
Os enormes avanços da informática nestes últimos anos vieram a melhor a vida de todos nós. De facto, o desaparecimento repentino de todo o tipo de computadores nesta altura da humanidade, seria desastroso. Não teríamos computadores pessoais, muito menos livros, CDs, televisões, rádios, carros, edifícios e construções seguras. Podes-se bem dizer que é uma coisa impensável. Tudo seria rudimentar, meramente mecânico.
O computador é uma das bases da sociedade actual e sem ele não poderíamos viver.
Conclusão:
As seguintes ideias podem ser retiradas deste trabalho:
- O computador não possui capacidade de semântica, apenas sintáctica, razão pela qual nunca se poderá tornar superior ao homem e controlá-lo.
- As máquinas não pensam e não têm inteligência uma vez que realizam operações com base em cálculos meramente lógicos, não fazendo uso da semântica, uma vez que não a possuem.
- O computador constitui um dos grandes pilares da nossa sociedade, e sem ele a vida seria muito mais complicada, uma vez que o homem está habituado ao comodismo trazido pela máquina.
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