Após a leitura de Elias, Norbert, "A Sociedade dos Individuos", A Sociedade dos Individuos, 1ª edição, Lisboa, Publicações Dom Quixote, Junho de 1993, pode-se chegar às seguintes conclusões.

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Após a leitura de Elias, Norbert, "A Sociedade dos Individuos", A Sociedade dos Individuos, 1ª edição, Lisboa, Publicações Dom Quixote, Junho de 1993, pode-se chegar às seguintes conclusões:

O tema inicial é acerca do conceito de sociedade: uma vez que o mesmo apresenta definições nem sempre muito claras. Questiona-se a palavra "sociedade", que é por todos utilizada embora ninguém discuta realmente o seu significado.

As mudanças no modo de viver em sociedade são independentes do planeamento individual, que só se verifica porque existe um grande número de pessoas que, individualmente, querem e fazem certas coisas. O autor aponta, de certa forma, duas "escolas" para vêr esta questão. Assim, temos um grupo que concebe as formações sócio-históricas como estruturas pré-concebidas, planeadas e criadas, semelhante aos projectos feitos para a construção de um grande edifício. Mas, desta forma, questões como a evolução dos estilos artísticos ficam sem resposta. No campo oposto temos aqueles que afirmam que o indivíduo não desempenha qualquer papel na sociedade. A sociedade é uma unidade orgânica, acima do individuo, com vida própria. As formas culturais e as instituições económicas desempenham um papel fundamental.

Esta dualidade aparece também nas explicações das funções psicológicas sociais - há um lado que afirma ser possível isolar o indivíduo das suas relações com as demais pessoas, por outro lado, há os que afirmam que não existe lugar apropriado às funções psicológicas do indivíduo singular.

Estas correntes de opinião acabam tabmbém por afectar o individuo, criando-nos as mesmas dúvidas. Temos uma certa idéia de que somos indivíduos e do que é a sociedade, porém, se tentarmos, no nosso pensamento, reconstruir aquilo que experimentamos na realidade, perceberemos que nosso fluxo de pensamento é entrecortado e com falhas. Isto deve-se ao facto de não possuirmos modelos conceituais e nem uma visão global que nos permita compreender como é possível que indivíduos isolados possam, sem sequer ter planeado ou pretendido, formar e transformar a sociedade.

Uma das principais questões que afecta a nossa sociedade, é a de como tornar possível criar uma ordem social que possibilite a harmonização ente o desenvolvimento pessoal do indivíduo e, por outro lado, pelas exigências feitas pelo trabalho coletivo de muitos no tocante à manutenção do social como um todo. Por mais que se tente separar o indivíduo da sociedade, percebemos que o desenvolvimento de um está intimamente ligado ao do outro. A dissociação é impossível. Porém, o que acaba por acontecer é que os projectos criados para pôr termo a essa questão infelizmente sacrificam uma coisa à custa de outra. Com isto, percebemos que qualquer idéia relacionada com o tema é tida como uma tomada de posição para um dos lados, isto é, ou se fala que o indivíduo é mais importante que a sociedade, ou que a sociedade é mais importante que o indivíduo. Os conflitos, portanto, são inevitáveis. Surge, assim, a dicotomia indivíduo e sociedade. Esquece-se que a questão não é saber quem é o mais importante, mas sim em saber que nem o indivíduo, nem a sociedade existem um sem o outro.

A vida social dos seres humanos não é harmoniosa: ela é repleta de contradições, tensões e explosões. As pessoas também estão num movimento mais ou menos perceptível; os indivíduos também não se unem como cimento: as maiorias das pessoas vão e vêm como lhes apraz. Porém, embora exista a liberdade individual de movimento, há também uma ordem oculta e aparentemente imperceptível. Cada pessoa nesse turbilhão, em algum lugar, em algum momento, tem uma função, um trabalho específico, ou mesmo alguma tarefa para os outros, ou ainda, um emprego perdido. Como resultado de sua função, cada pessoa tem ou teve um rendimento, do qual sobrevive ou sobreviveu. Não é possível a qualquer uma delas "mudar de pele"de um momento para o outro. Cada um está preso aos "formalismos" de cada ocasião - seja do trabalho ou de desemprego, de uma festa ou de um funeral. A ordem invisível dessa forma de vida em comum oferece ao indivíduo uma gama mais ou menos restrita de funções e de comportamentos possíveis. Na verdade, o indivíduo está confinado à situação em que nasce, às funções e à situação de seus pais, e à escolarização que recebe. Embora possa não conhecer ninguém em certos meios, o individuo possui, em algum lugar, um círculo de relações a que pertence e, mesmo que esteja só, possui conhecidos perdidos ou mortos que vivem apenas em sua memória. Cada pessoa, mesmo o monarca absolutista mais poderoso, representa uma função que só é formada e mantida em relação a outras funções, as quais somente podem ser compreendidas em termos da estrutura específica e do contexto em que estão. Mas essa rede de funções existente nas associações humanas não surgiu como somatório de vontades, isto é, da decisão comum das pessoas individuais. E, no entanto, esse contexto funcional é algo que existe fora dos indivíduos. Cada função é exercida de uma pessoa para outras. E cada uma destas funções está relacionada com terceiros: cada uma depende das outras. Portanto, é essa rede de funções que as pessoas desempenham umas em relação às outras, a ela e nada mais, chamamos sociedade.
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O hábito de analisarmos unidades compostas a partir de unidades menores e das suas inter-relações, quando aplicado aos diferentes tipos de experiências que temos de nós mesmos, das pessoas e das sociedades, origina anomalias específicas. Estes hábitos mentais originam, por um lado, os grupos que sustentam a idéia de que a sociedade é algo supra-individual (surgem os conceitos de mentalidade colectiva, organismo colectivo). Por outro, há os grupos que concentram as idéias nos indivíduos humanos. Embora estes vejam que as estruturas e leis sociais nada mais são que estruturas e leis de relação entre as pessoas, são incapazes ...

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